Uma mãe instrui e educa o filho na expectativa de vê-lo
crescer saudável, obediente e fiel. Um estudante se prepara na escola para
fazer boas provas, passar de série, formar-se, ter uma profissão, tornar-se um
cidadão respeitável.
É isso que de certa forma Tiago
nos apresenta nesta Palavra. Tiago nos pede que ouçamos e ponhamos em prática a
Palavra de Deus. Que saibamos ouvir e obedecer. A Palavra tem que nos
preencher, nos transformar. Aquele que ouve a Palavra de Deus e não retém no
coração é como guardar água num balde furado. Ouvir a Deus, aceitar a Palavra
de Deus; ouvir, aceitar, reter, guardar a Palavra de Deus. Guardar, não para
acumular egoisticamente, mas para usufruir dela, para usa-la como fonte de
salvação para si próprio e para os irmãos. (ver Rm 2,13).
Não adianta multiplicar
palavras, mesmo em oração, quando o coração está vazio. Nesta hora é melhor
calar, é melhor silenciar para ouvir. Nenhum de nós é capaz de ouvir, entender,
reconhecer uma voz em meio a um burburinho, um vozerio, principalmente quando
nós mesmos falamos. Muitos reclamam que Deus não lhes fala, que carismas não
são manifestados. Deus fala sim! Eles é que não ouvem. Falam, falam, falam,
falam sem parar e não deixam espaço para Deus, não dão tempo para Deus. E mesmo
quando Deus, às vezes atropela e fala, eles não percebem, não ouvem, tão
mergulhados estão em seus próprios problemas.
Tiago nos lembra que devemos
usar a Palavra para não cair no erro. (ver Mt 7,24-27). Devemos também usar a
Palavra para fugir do pecado, para viver os frutos do Espírito Santo: mansidão,
amor, temperança, caridade, esperança, paz; e não viver sob a carne, cujos
frutos são: malicia, devassidão, ódio, contendas, orgulho, violência,
idolatria, etc.
A leitura nos remete também a
Primeira Epistola de São João (I Jo 3,17s). A fé sem obras é morta, nos diz
Tiago mais adiante. A fé por si só não é caminho de salvação. Ela tem que ser
acrescida de obras. Assim como a caridade sem fé, sem amor, não é caridade, é
filantropia. De nada vale uma fé fervorosa se ela não é vivenciada, acompanhada
de amor ao próximo, perdão as ofensas, caridade. Do mesmo modo é inútil a obra
vazia, destituída de amor, sem a fé necessária que nos conduz ao caminho da
verdade; tal obra se constitui em mero ativismo. A oração é como uma via de mão
dupla; a cada pedido nosso, em contrapartida, Deus nos pede algo. O milagre de
Caná só se realizou porque os homens encheram as talhas a pedido de Jesus.
Lázaro retornou da morte após terem rolado a pedra do túmulo, a pedido de
Jesus. O possível Ele quer que façamos, o impossível, o milagre Ele faz.
Vivemos a quaresma, tempo de
deserto, tempo de escuta. Tempo de nos colocarmos a disposição do Senhor para
que Ele faça sua obra em nós. Na quaresma a Igreja do Brasil organiza e celebra
a Campanha da Fraternidade. O tema deste ano (2004) é Água Fonte de Vida. Água,
indispensável a manutenção da vida no campo material; água, indispensável
também no aspecto espiritual, bíblico. “O Espírito de Deus pairava sobre as
águas” é um dos primeiros versículos da Bíblia Sagrada. Temos as águas do
dilúvio, onde o mal, o pecado, foi afogado e a humanidade renasceu na arca de
Noé. As águas que brotaram da rocha no Horeb, ao ser tocada pelo cajado de
Moisés, e que aplacou a sede do povo que peregrinava no deserto. Águas do
Jordão, que purificaram Naamã e batizaram Jesus. A torrente que jorrou do
templo e que fecundava tudo à sua margem, conforme relato do profeta Ezequiel.
A água que se tornou vinho em Caná. As águas da piscina de Siloé. Águas de Betesda, que quando agitadas curavam
os enfermos que nela se banhavam. O poço de Jacó, onde a samaritana encontrou a
fonte de água viva, Jesus. A água que emanou do lado aberto de Jesus, após todo
seu sangue se esvair. Sangue que curou, libertou, salvou; água que purificou. O
sangue de Jesus nos selou com a promessa da Salvação; a água de Jesus nos lavou
de toda imundície. Pela fé aceitamos a salvação e pelas obras nos tornamos
merecedores dela. Amém.
(sinopse de pregação)
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