sexta-feira, 30 de março de 2018

Hino Cristológico


“Dedicai-vos mutuamente a estima que se deve em Cristo Jesus. Sendo ele de condição divina, não se prevaleceu de sua igualdade com Deus, mas aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e assemelhando-se aos homens. E sendo exteriormente conhecido como homem, humilhou-se ainda mais, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz. Por isso, Deus o exaltou soberanamente e lhe outorgou o nome que está acima de todos os nomes, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho no céu, na terra e nos infernos. E toda língua confesse, para glória de Deus Pai que Jesus Cristo é Senhor” (Fl 2,5-11)

Esta pericope é um antigo hino litúrgico cristão citado pelo Apostolo Paulo na carta aos filipenses.
É a ‘kenosis’ de Jesus Cristo, segundo a qual, Cristo, o verbo Encarnado, teve que sofrer para alcançar a glória (não há Tabor sem Calvário). A passagem também remete a Isaias 53.
Baseado neste texto bíblico podemos, com S. Leão Magno, dizer que o Verbo assumiu nossa humanidade, sem no entanto, deixar a divindade; desceu de seu trono de glória sem perder a majestade; imortal, assumiu um corpo mortal e submeteu-se à morte; invisível na sua natureza tornou-se visível na nossa; isento de pecado, fez-se pecado por todos.
Damos graças ao Deus maravilhoso, que humildemente desceu de seu trono de glória e fez-se como nós, sofreu as nossas dores, sentiu nossas ansiedades e angústias e por fim doou-se, esvaziou-se até o fim, por nós!
Bendito seja o nome de Jesus, nome acima de todo nome; nome que ao ser pronunciado do fundo da alma, nos pacifica, nos harmoniza; pelo poder do nome de Jesus, povos, raças e nações são restaurados. Louvado seja Jesus Cristo Nosso Senhor, verdadeiro Deus e verdadeiro homem que veio habitar entre nós e revelou o imenso amor do Pai.



sexta-feira, 23 de março de 2018

A boca fala daquilo que o coração está cheio


 Um ditado popular diz: "O peixe morre pela boca". O quanto há de verdadeiro nesta metáfora? A Bíblia em Tiago 3,5-6 diz claramente que a língua pode ser causa de perdição. Esse pequeno membro pode fazer tanto estrago na vida das pessoas tanto quando uma arma letal. Parece exagero, mas não é; uma arma fere o corpo, pode ou não deixar sequelas que com   tratamento médico adequado são com relativa facilidade curadas ou minimizadas. A língua pode não ferir e realmente não fere o corpo, mas geralmente fere e fere profundamente  a alma, trazendo consequências graves ao emocional e na psique das pessoas vitimadas por injurias e agressões verbais.
Sim, o peixe morre pela boca e o difamador, o fofoqueiro, o maldizente, o falastrão também. "A língua contamina todo o corpo e inflamada pelo inferno incendeia o curso de nossa vida" (cf. Tg 3,6). Isto é uma advertência aos contumazes usuários das palavras de maldição, das ameaças, das ofensas, das mentiras difamatórias, do julgamento, enfim, do uso da língua como instrumento de maldade, não de bençãos.
Neste contexto podemos citar também a passagem bíblica em Mt 7,1-5: "Não julgueis e não sereis julgados; porque do mesmo modo que julgardes sereis também vós julgados e com a mesma medida que medirdes sereis vós medidos. Por que olhas a palha que está no olho do teu irmão e não vês a trave que está no teu? Hipócrita! Tira primeiro a trave que está no teu olho e assim verás para tirar a palha do olho do teu irmão".  Caríssimos irmãos, o Senhor aqui nos adverte que devemos ser caridosos e prudentes com as atitudes dos outros. Isto não significa ser complacente com os erros, mas antes de emitir qualquer juízo de valor, olhar para si mesmo  numa auto análise crítica e perceber que muito daquilo que criticamos nos outros é inerente a nós mesmos. Assim, no âmago da questão observamos que os que criticam e julgam já condenando, estão na verdade projetando sua  própria idiossincrasia. É um ato de defesa; ataco primeiro e diminuo as chances de ser atacado. Desnudo o adversário e me revisto de uma capa de integridade. É verdadeiramente uma estratégia de dissimulação, na medida em que aponto os defeitos do outro enquanto escondo os meus.
Por isso as palavras duras de Jesus, que não são acusatórias, entrementes são palavras de advertência que nos levam a refletir, examinar minuciosamente nossa consciência para que possamos nos livrar da tendência perniciosa de julgar o próximo. Afinal a boca fala daquilo que o coração está cheio. Se comemos cebola nosso hálito certamente não será de hortelã.







sexta-feira, 16 de março de 2018

Ação e Oração


Tempos difíceis esses!  Crises política e econômica, insegurança em todos os sentidos; medo do desemprego, da violência, do futuro da nação. Porém uma coisa é certa: o cristão não desanima. Do ponto de vista prático, no plano material lutamos por mudanças, esperançosos por melhorias na situação do país, do fim da corrupção (fim é utopia, ao menos diminuição considerável, a níveis de normalidade – se é que existe normalidade neste caso) com a punição exemplar de corruptos e corruptores. Enfim, voltemos a ser uma nação respeitável e respeitada no mundo. Entretanto, o autêntico cristão não vive apenas em função desse mundo; vivemos também com o coração e a mente voltados para uma instancia superior: o reino de Deus, procurando já vivê-lo aqui na face da terra. Essa é a razão de não desanimarmos, a razão do nosso alento. Confiamos plenamente naquele que tudo pode. Em tudo demos graças a Deus e esperemos nele. Sabemos, contudo, que nem sempre a resposta de Deus é imediata e nem de acordo com aquilo que esperamos, mas sempre vem. Se diferente do que pretendíamos, se demorada, não importa. “Pai, que seja feita vossa vontade”, disse Jesus. E sabemos, a vontade de Deus é dar o melhor para nós no tempo oportuno. Se fizermos nossa parte, o que nos é devido e oramos com fé, a resposta por certo virá; virá e não seremos decepcionados, podemos crer convictamente nisso!
Estamos como num avião atravessando uma grande nuvem. Passamos por esse momento de turbulência, mas como o avião em voo, suportaremos as intempéries, atravessaremos as nuvens e a turbulência haverá de passar. Sonhamos com um Brasil melhor, um mundo melhor. Façamos o que nos é de direito sendo cidadãos honestos, zelando pelo patrimônio publico ou privado, respeitando as leis e vivendo a cidadania de modo pleno.  Viver plenamente a cidadania é impor-se limites e viver de acordo com as leis morais naturais, simples assim. No campo material ação, no campo espiritual, oração. Oremos com fé expectante na certeza da ação divina. As talhas estão sendo cheias; esperamos que Jesus venha e transforme a água de nossa esperança no vinho da vitória.


sábado, 10 de março de 2018

Circulo Vicioso



‘Bailando no ar, gemia inquieto vaga-lume:
  – "Quem me dera que eu fosse aquela loura estrela
Que arde no eterno azul, como eterna vela!”
Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme:
  – “Pudesse eu copiar-te o transparente lume,
Que da grega coluna à gótica janela,
Contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela!”
Mas a lua, fitando o sol, com azedume:
  – “Mísera! Tivesse eu aquela enorme, aquela
Claridade imortal, que toda a luz resume!”
Mas o sol, inclinando a rútila capela:
  – “Pesa-me esta brilhante aureola de lume...
Enfara-me esta azul e desmedida umbela...
Porque não nasci eu um simples vaga-lume?”(Machado de Assis-Circulo Vicioso).

Este belo soneto de machado de Assis reflete a situação de muitos. Há pouco escrevemos aqui sobre pessoas insatisfeitas que queriam ser outras, na verdade invejavam pessoas que julgavam superiores a si. Aqui vemos pessoas enfadadas com sua situação, posição social, enfim, consigo mesmas. Um misto de sentidos de inferioridade com superioridade, num paradoxo de sentimentos. Os pequenos invejam e desejam ser grandes; os grandes, cansados, prefeririam ser pequenos. Assim a vida segue.
Não importa quem sou, como sou, eu sou filho amado de Deus Pai todo Poderoso. Fomos concebidos no ventre materno, nem sempre de modo afetuoso, amoroso; alguns de nós até indesejados. Porém o verdadeiramente importante é que independentemente da maneira como fomos gerados, cada um de nós foi plasmado, engendrado no amor transbordante do Pai Eterno, nosso Deus. Portanto somos quem somos, nada mais, somos únicos.  Se sou um simples “vagalume”, por que desejar ser como uma “vela, a lua, ou o sol?” Sendo o “sol”, Por que covardemente abdicar de minhas responsabilidades para ser como um “vagalume?”
Enfim, o que queremos dizer aqui é que cada um tem seu valor, independente de ser grande ou pequeno, pobre ou rico. Nosso Criador não nos distingue conforme nossos próprios conceitos, Ele nos enxerga com olhar amoroso de pai, não privilegia este ou aquele, não tem preferências; perante Deus somos todos iguais. Deus não discrimina, não despreza. Deus jamais nos abandona, nós sim o abandonamos com nossa idiossincrasia.   


sexta-feira, 2 de março de 2018

Dor do Mundo


Sempre haverá dor no mundo. Contudo não devemos nos desesperar. Os maus a levarão consigo e a espalharão aonde forem; os tolos egoístas não a perceberão em outros, somente em si próprios. Outras pessoas tentarão aliviar a dor, consolando os que sofrem, confortando, remediando. Estas são as pessoas boas, misericordiosas, compassivas, que amam; espero que você que agora lê este texto esteja entre esses últimos, mesmo que ocasionalmente também você tenha sido atingido pela dor e viva um momento atribulado.
 Sabemos que Deus é bom e não se compraz com o sofrimento. Então porque sofremos?
Várias podem ser as causas: desleixo, conseqüências do pecado (pessoal ou herdada), fatalidade, imprudência, etc. Várias são as ocorrências em que pais ao perderem filhos em acidentes fatais, blasfemam culpando a Deus pela tragédia. Não se atêm ao fato que Deus não dirigia um automóvel enlouquecidamente; não se embriagou numa festa e assumiu um volante; não induziu ninguém a atravessar uma via de grande circulação de veículos fora da faixa ou da passarela de pedestres e tantas e tantas atitudes afoitas e irresponsáveis de grande numero de jovens hoje em dia.   
E quando alguém atravessa a rua corretamente na faixa e é atropelado por um carro que em alta velocidade avançou o sinal? Quando o motorista dirige de modo correto e é abalroado por outro que dirigia drogado ou embriagado? Quando alguém é atingido por uma bala perdida? Quando uma criança contrai dengue e não resiste? Neste caso pode não haver responsabilidade das vitimas, mas alguém errou, alguém foi responsável pelos acidentes (ou incidentes). Um motorista insano guiava um carro velozmente e avançou um sinal; outro guiava embriagado; criminosos trocavam tiros nas ruas; profissionais de saúde negligentes e autoridades omissas não conseguem controlar uma doença facilmente diagnosticável e de tratamento simples.
 Porque então responsabilizar Deus pelos erros e desatinos dos seres humanos? Porque Ele tudo sabe, tudo vê, tudo pode? De fato, Deus é onisciente, onipresente, onipotente, mas não é prepotente. Logo, Ele nos fez livres e não interfere em nossa liberdade, mesmo que abusemos dessa liberdade, mesmo que transformemos essa liberdade em libertinagem e libertinagem em maldade.
Deus não poderia vencer o mal? Certamente; em seu infinito amor Deus tem poder para tudo. É por isso que diante da maldade e suas conseqüências devemos sempre nos lembrar d’Ele. Sabemos que Deus é amor e sendo assim, valoriza quem é amado, portando Ele não faz a nossa parte; deixa-nos à vontade. Na verdade Deus é força para que unidos em seu amor, façamos tudo que é possível para superar o mal. Quando as pessoas se unem vencendo barreiras, preconceitos, divisões, muito das conseqüências do mal são anuladas. Pode acontecer que nos atemorizemos frente ao que nos cerca. Entretanto jamais podemos esquecer que na morte e ressurreição de Cristo Jesus o mal foi vencido. Cabe a cada um de nós acolher esta dádiva. Não podemos fugir da responsabilidade, pois quem ama é responsável.

Façamos então como o Apóstolo Paulo: “Quem nos afastará do amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada? Pois estou persuadido que nem a morte, nem os abismos, nada poderá nos apartar do amor que Deus nos testemunha em Cristo Jesus, nosso Senhor”.(Rm 8,35.38s).