sábado, 21 de janeiro de 2017

Carta do Ministério Fé e Política em defesa da vida

Amados irmãos em Cristo Jesus!


“... a vós, graça e paz da parte de Deus, nosso Pai, e da parte do Senhor Jesus Cristo, que se entregou por nossos pecados, para nos libertar da perversidade do mundo presente, segundo a vontade de Deus, nosso Pai, a quem seja dada a glória pelos séculos dos séculos. Amém!” (Gal. 1, 3-5).
Mais uma vez, dirigimos a palavra aos irmãos carismáticos em um grave momento de crise em nosso país. Durante muito tempo o povo brasileiro acostumou-se com as crises financeiras, mas, ao que tudo indica, parece que agora estamos sendo levados a conviver com uma constante crise política, moral, ética e de escândalos sem fim. Interessante recordar as palavras que o Ministério Fé e Política dirigiu ao povo da RCC em 16 de março de 2016:
“... De fato, não é diferente entre nós carismáticos. Com os últimos acontecimentos políticos noticiados pela imprensa brasileira, a indignação torna-se presente, uma forte inquietação suscita em muitos o desejo de protagonizar uma reação explícita e terminam por sugerir todo o tipo de mobilização aos líderes do Movimento. Neste contexto, é importante reconhecer que é lícito indignar-se com a corrupção e com toda mazela resultante do trato com a coisa pública. Contudo, é preciso recordar que pela fé acreditamos que não são as armas humanas que estão vencendo este combate – é Deus mesmo que se põe à frente abrindo caminhos”.
Agora em 04 de dezembro de 2016, novamente nos vemos diante de situações não menos desafiadoras e graves que as anteriores. Muito se questiona a respeito de um posicionamento oficial da RCC quanto às manifestações de rua. Como sempre, nossa referência permanece em Jesus e nas orientações da Igreja. Neste contexto, é preciso recordar que em sua NOTA EM DEFESA DA VIDA, a CNBB reafirmou a incondicional posição da Igreja em defesa da vida humana, condenando toda e qualquer tentativa de liberação e descriminalização da prática do aborto. E fez um apelo: “Conclamamos nossas comunidades a rezarem e a se manifestarem publicamente em defesa da vida humana, desde a sua concepção” (Nota da CNBB de 01/12/2016).
Nesse contexto, um texto de Pe. Luiz Carlos Lodi escrito em 12/04/16, intitulado “Muita marcha e pouca oração”, permitirá lançar luzes às nossas reflexões. Ele dizia:
“... Em 13 de março de 1964, o presidente João Goulart (Jango) discursou em um comício feito na Central do Brasil, Rio de Janeiro, pleiteando uma reforma estrutural profunda (‘reforma de base’) que só poderia ser obtida mediante uma nova Constituição. ‘Nem os rosários podem ser erguidos como armas’, disse ele contra os que se opunham à reforma. Horas antes do discurso, o presidente assinara dois decretos: um permitia a desapropriação de terras numa faixa de dez quilômetros às margens de rodovias, ferrovias e barragens; outro transferia para o governo o controle de cinco refinarias de combustíveis que operavam no país.
No dia 19 de março de 1964, dia de São José, patrono da família, houve em São Paulo a grandiosa ‘Marcha da Família com Deus pela liberdade’, em reação ao discurso de Jango. A marcha foi concebida pela freira paulista Ana de Lourdes, neta do jurista Rui Barbosa. Seria uma ‘Marcha de Desagravo ao Santo Rosário pela ofensa que tinham constituído as palavras de Goulart na Guanabara’. O nome ‘Marcha da Família com Deus pela Liberdade’ acabou sendo sugerido pela deputada Conceição da Costa Neves. A multidão, estimada entre 500 e 800 mil pessoas, certamente portava faixas e cartazes, gritava palavras de ordem, mas não faltou a oração. Era época em que o padre irlandês Patrick Peyton fundara o movimento Cruzada do Rosário em Família, com o lema ‘a família que reza unida permanece unida’. O povo partiu da Praça da República e dirigiu-se à Praça da Sé, onde Padre Peyton celebrou a Santa Missa pela Salvação da Democracia. Convém ressaltar a importância das mulheres na marcha. Grupos como a CAMDE (Campanha da Mulher pela Democracia) e a União Cívica Feminina (UCF) estiveram presentes na organização da grande passeata. Pedia-se a Deus a salvação do Brasil ameaçado pelo comunismo, a preservação da família e da liberdade.
No dia seguinte, 20 de março, o general Castelo Branco, chefe do Estado Maior do Exército, exprimiu sua preocupação com o discurso de Jango em uma carta circular:
São evidentes duas ameaças: o advento de uma Constituinte como caminho para a consecução das reformas de base e o desencadeamento em maior escala de agitações generalizadas do ilegal poder do CGT. As Forças Armadas são invocadas em apoio a tais propósitos.
[...]
Várias Marchas da Família com Deus pela Liberdade foram realizadas em outras cidades até o final de março de 1964.
Em 31 de março, o general Olympio Mourão Filho resolveu partir com suas tropas, do Estado de Minas Gerais, para o Rio de Janeiro, e de lá para Brasília, sem encontrar qualquer resistência. João Goulart fugiu para Porto Alegre e, de lá, exilou-se no Uruguai. A Revolução foi efusivamente comemorada pelo povo, com novas Marchas da Família com Deus pela Liberdade, desta vez chamadas ‘Marchas da Vitória’.
No dia 2 de abril de 1964, no Rio de Janeiro uma gigantesca Marcha de cerca de um milhão de pessoas partiu da Praça da Candelária e foi até a Esplanada do Castelo.
Mais de cinquenta anos depois, o povo brasileiro vai às ruas para protestar.
[...]
Essa imensa multidão, porém, anda errante ‘como ovelhas sem pastor’ (Mt 9,36). Grita contra a corrupção, os desvios de verba, o aumento de impostos, o enriquecimento ilícito dos governantes, a inflação alta, o aumento do desemprego, a recessão da economia, mas não se veem mais terços nas mãos, nem um líder religioso como Padre Peyton que conclame o povo à oração.
Ouvi o clamor do meu povo (cf. Ex 3,7) – Uma massa informe é diferente de um povo organizado. Uma multidão revoltada é diferente de um ‘exército em ordem de batalha’ (Ct 6,10). Uma marcha de pessoas que apenas sabem gritar ‘Fora, Presidente!’ é diferente de um grupo de discípulos unidos a Maria rogando perseverantes pela vinda do Espírito Santo (cf. At 1,14).
Para que Deus possa dizer de nós o que disse a Moisés – ‘o clamor dos filhos de Israel chegou até mim’ (Ex 3,9) –  é preciso que também nós clamemos a Ele. Clamemos junto com seu Filho, cujo sangue é mais eloquente que o de Abel, ‘porque o sangue de Abel pedia a morte do irmão fratricida, ao passo que o sangue do Senhor obteve a vida para seus perseguidores’. Clamemos junto com Maria Santíssima, de quem Jesus disse olhando para nós: ‘Eis a tua mãe’ (Jo 19, 27). Elevemos ao céu muitas vezes as palavras com que o anjo Gabriel a saudou – ‘Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo’ (Lc 1,28) – e as palavras com que Isabel, cheia do Espírito Santo, recebeu Maria em sua casa: ‘Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre’ (Lc 1,42).”
Mais do que nunca, o discernimento da Renovação Carismática Católica para o atual momento aponta para a oração. Assim, o Conselho Nacional da RCCBRASIL orienta o povo carismático a prosseguir em unidade e perseverança em nossa missão de orar, mantendo equilíbrio e coerência para atuarmos com maturidade nas decisões, que como cidadãos, estão sujeitas ao foro íntimo. Ou seja, cada um deve avaliar as circunstâncias e riscos para a sua tomada de decisão como cidadão, visando garantir uma manifestação em defesa da vida humana, desde a sua concepção, com integridade e segurança.
Acima de tudo, acreditamos que Nossa Mãe Maria está ao nosso lado levando as nossas súplicas pelo Brasil a Jesus.
 Que Deus nos abençoe a todos!
Ministério Fé e Política RCCBRASIL- Conselho Nacional RCCBRASIL


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