Amados irmãos em Cristo Jesus!
“... a vós, graça e paz da parte de
Deus, nosso Pai, e da parte do Senhor Jesus Cristo, que se entregou por nossos
pecados, para nos libertar da perversidade do mundo presente, segundo a vontade
de Deus, nosso Pai, a quem seja dada a glória pelos séculos dos séculos. Amém!”
(Gal. 1, 3-5).
Mais uma vez, dirigimos a palavra aos
irmãos carismáticos em um grave momento de crise em nosso país. Durante muito
tempo o povo brasileiro acostumou-se com as crises financeiras, mas, ao que
tudo indica, parece que agora estamos sendo levados a conviver com uma
constante crise política, moral, ética e de escândalos sem fim. Interessante
recordar as palavras que o Ministério Fé e Política dirigiu ao povo da RCC em
16 de março de 2016:
“... De fato, não é diferente entre
nós carismáticos. Com os últimos acontecimentos políticos noticiados pela
imprensa brasileira, a indignação torna-se presente, uma forte inquietação
suscita em muitos o desejo de protagonizar uma reação explícita e terminam por
sugerir todo o tipo de mobilização aos líderes do Movimento. Neste contexto, é
importante reconhecer que é lícito indignar-se com a corrupção e com toda
mazela resultante do trato com a coisa pública. Contudo, é preciso recordar que
pela fé acreditamos que não são as armas humanas que estão vencendo este
combate – é Deus mesmo que se põe à frente abrindo caminhos”.
Agora em 04 de dezembro de 2016,
novamente nos vemos diante de situações não menos desafiadoras e graves que as
anteriores. Muito se questiona a respeito de um posicionamento oficial da RCC
quanto às manifestações de rua. Como sempre, nossa referência permanece em
Jesus e nas orientações da Igreja. Neste contexto, é preciso recordar que em
sua NOTA EM DEFESA DA VIDA, a CNBB reafirmou a incondicional posição da Igreja
em defesa da vida humana, condenando toda e qualquer tentativa de liberação e
descriminalização da prática do aborto. E fez um apelo: “Conclamamos nossas
comunidades a rezarem e a se manifestarem publicamente em defesa da vida
humana, desde a sua concepção” (Nota da CNBB de 01/12/2016).
Nesse contexto, um texto de Pe. Luiz
Carlos Lodi escrito em 12/04/16, intitulado “Muita marcha e pouca oração”,
permitirá lançar luzes às nossas reflexões. Ele dizia:
“... Em 13 de março de 1964, o
presidente João Goulart (Jango) discursou em um comício feito na Central do
Brasil, Rio de Janeiro, pleiteando uma reforma estrutural profunda (‘reforma de
base’) que só poderia ser obtida mediante uma nova Constituição. ‘Nem os
rosários podem ser erguidos como armas’, disse ele contra os que se opunham à
reforma. Horas antes do discurso, o presidente assinara dois decretos: um
permitia a desapropriação de terras numa faixa de dez quilômetros às margens de
rodovias, ferrovias e barragens; outro transferia para o governo o controle de
cinco refinarias de combustíveis que operavam no país.
No dia 19 de março de 1964, dia de
São José, patrono da família, houve em São Paulo a grandiosa ‘Marcha da Família
com Deus pela liberdade’, em reação ao discurso de Jango. A marcha foi
concebida pela freira paulista Ana de Lourdes, neta do jurista Rui Barbosa.
Seria uma ‘Marcha de Desagravo ao Santo Rosário pela ofensa que tinham
constituído as palavras de Goulart na Guanabara’. O nome ‘Marcha da Família com
Deus pela Liberdade’ acabou sendo sugerido pela deputada Conceição da Costa
Neves. A multidão, estimada entre 500 e 800 mil pessoas, certamente portava
faixas e cartazes, gritava palavras de ordem, mas não faltou a oração. Era
época em que o padre irlandês Patrick Peyton fundara o movimento Cruzada do
Rosário em Família, com o lema ‘a família que reza unida permanece unida’. O
povo partiu da Praça da República e dirigiu-se à Praça da Sé, onde Padre Peyton
celebrou a Santa Missa pela Salvação da Democracia. Convém ressaltar a
importância das mulheres na marcha. Grupos como a CAMDE (Campanha da Mulher
pela Democracia) e a União Cívica Feminina (UCF) estiveram presentes na
organização da grande passeata. Pedia-se a Deus a salvação do Brasil ameaçado
pelo comunismo, a preservação da família e da liberdade.
No dia seguinte, 20 de março, o
general Castelo Branco, chefe do Estado Maior do Exército, exprimiu sua
preocupação com o discurso de Jango em uma carta circular:
São evidentes duas ameaças: o advento
de uma Constituinte como caminho para a consecução das reformas de base e o
desencadeamento em maior escala de agitações generalizadas do ilegal poder do
CGT. As Forças Armadas são invocadas em apoio a tais propósitos.
[...]
Várias Marchas da Família com Deus
pela Liberdade foram realizadas em outras cidades até o final de março de 1964.
Em 31 de março, o general Olympio
Mourão Filho resolveu partir com suas tropas, do Estado de Minas Gerais, para o
Rio de Janeiro, e de lá para Brasília, sem encontrar qualquer resistência. João
Goulart fugiu para Porto Alegre e, de lá, exilou-se no Uruguai. A Revolução foi
efusivamente comemorada pelo povo, com novas Marchas da Família com Deus pela
Liberdade, desta vez chamadas ‘Marchas da Vitória’.
No dia 2 de abril de 1964, no Rio de
Janeiro uma gigantesca Marcha de cerca de um milhão de pessoas partiu da Praça
da Candelária e foi até a Esplanada do Castelo.
Mais de cinquenta anos depois, o povo
brasileiro vai às ruas para protestar.
[...]
Essa imensa multidão, porém, anda
errante ‘como ovelhas sem pastor’ (Mt 9,36). Grita contra a corrupção, os
desvios de verba, o aumento de impostos, o enriquecimento ilícito dos
governantes, a inflação alta, o aumento do desemprego, a recessão da economia,
mas não se veem mais terços nas mãos, nem um líder religioso como Padre Peyton
que conclame o povo à oração.
Ouvi o clamor do meu povo (cf. Ex
3,7) – Uma massa informe é diferente de um povo organizado. Uma multidão
revoltada é diferente de um ‘exército em ordem de batalha’ (Ct 6,10). Uma
marcha de pessoas que apenas sabem gritar ‘Fora, Presidente!’ é diferente de um
grupo de discípulos unidos a Maria rogando perseverantes pela vinda do Espírito
Santo (cf. At 1,14).
Para que Deus possa dizer de nós o
que disse a Moisés – ‘o clamor dos filhos de Israel chegou até mim’ (Ex 3,9)
– é preciso que também nós clamemos a Ele. Clamemos junto com seu Filho,
cujo sangue é mais eloquente que o de Abel, ‘porque o sangue de Abel pedia a
morte do irmão fratricida, ao passo que o sangue do Senhor obteve a vida para
seus perseguidores’. Clamemos junto com Maria Santíssima, de quem Jesus disse
olhando para nós: ‘Eis a tua mãe’ (Jo 19, 27). Elevemos ao céu muitas vezes as
palavras com que o anjo Gabriel a saudou – ‘Alegra-te, cheia de graça, o Senhor
está contigo’ (Lc 1,28) – e as palavras com que Isabel, cheia do Espírito
Santo, recebeu Maria em sua casa: ‘Bendita és tu entre as mulheres e bendito é
o fruto do teu ventre’ (Lc 1,42).”
Mais do que nunca, o discernimento da
Renovação Carismática Católica para o atual momento aponta para a oração.
Assim, o Conselho Nacional da RCCBRASIL orienta o povo carismático a prosseguir
em unidade e perseverança em nossa missão de orar, mantendo equilíbrio e
coerência para atuarmos com maturidade nas decisões, que como cidadãos, estão
sujeitas ao foro íntimo. Ou seja, cada um deve avaliar as circunstâncias e
riscos para a sua tomada de decisão como cidadão, visando garantir uma
manifestação em defesa da vida humana, desde a sua concepção, com integridade e
segurança.
Acima de tudo, acreditamos que Nossa
Mãe Maria está ao nosso lado levando as nossas súplicas pelo Brasil a Jesus.
Que Deus nos abençoe a todos!
Ministério Fé e Política RCCBRASIL-
Conselho Nacional RCCBRASIL
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