sábado, 2 de julho de 2016

O que é preciso para ser um bom pregador?


Algumas pessoas me procuram dizendo que se sentem chamadas a pregar e querem saber o que é preciso para se preparar bem para essa missão. Por exemplo, um rapaz me escreveu:
“Sou pregador da RCC (Renovação Carismática Católica), mas sinto desejo de me aprofundar na formação teológica. Gostaria de um direcionamento de o que começar estudar e a fazer? Por onde começar?”
Vou colocar aqui algumas sugestões que me ajudam na missão de pregar e escrever. Antes de tudo, esse é um belo chamado de Deus, especialmente para aqueles que receberam a graça de saber se expressar bem, o dom da pregação. Digo isso em relação à pregação para o público; todos são chamados a difundir o Evangelho, ainda que não seja para grupos de pessoas e auditórios. “Ai de mim se eu não evangelizar!” (1 Cor 9,16).
1 – Cuidar bem da vida espiritual
O pregador precisa ter uma vida de oração contínua, ter comunhão com Deus. Jesus disse: “Sem Mim nada podeis fazer” (João 15,5); muito menos em se tratando de levar as pessoas a Deus. Sem vida de oração não é possível ser bom pregador, ou seja, transmitir aos outros “O que Deus quer”. Santo Agostinho dizia: “falar com Deus, mais do que falar de Deus”. A pregação de quem não ora, é vazia, não toca as pessoas. Na pregação temos de passar aos outros “aquilo que recebemos de Deus na oração”; e isso só e possível com intimidade com Deus, na vida sacramental (Eucaristia e Confissão frequentes), na meditação da Palavra de Deus, na leitura de bons livros espirituais, etc..
2 – Cuidado com seu comportamento
O contra testemunho decepciona as pessoas. Papa Paulo VI disse que “o mundo quer mais testemunhas do que mestres”. A luta contra todo tipo de pecado deve ser uma preocupação permanente. O pregador está a serviço de Cristo e da Igreja, sua responsabilidade é grande. “Vigiai e orai, porque o espírito é forte, mas a carne é fraca”; também a do pregador. Mas, somos pecadores; nem por isso o pregador deve deixar de pregar por causa de seus pecados; a menos que seja algo muito grave e que se tornou um contra testemunho muito sério para as pessoas. Se cair, levante-se imediatamente e continue a caminhada para Deus. Deixar a pregação por causa dos pecados pode ser uma tentação.
3 – Buscar continuamente a santidade
O Papa João Paulo II disse que “a santidade é a força mais poderosa para levar Cristo às pessoas”. Os santos abalaram o mundo, e a maioria deles sem usar avião, computador e, microfone. Basta olhar para os exemplos de São Francisco, Santo Inácio de Loyola, São João Bosco, Santa Teresa, Santa Teresinha, São João Vianney… abalaram o mundo pela força da sua santidade. Estou convencido de que em primeiro lugar o pregador deve buscar a santidade. Se ele fizer isso, Deus vai chamá-lo para muitas missões, sem ele precisar se oferecer para isso. Deus disse a Abrão: “Anda na minha presença e sê integro” (Gen 17,1). De nada adianta um bom microfone sem que haja por trás alguém que busque a santidade. Deus usa os pregadores que buscam a santidade. Daí a importância do pregador se examinar continuamente e se confessar sempre.
Bem nos lembrava São Francisco de Assis que dizia: “Pregue o evangelho em todo tempo, se necessário use palavras”. Ou seja, mais do que pregar com palavras, o principal é pregar com a vida!
4 – Trabalhar com “reta intenção”
Pregar por amor a Jesus e pela salvação das almas; isto é, só por Jesus, nada mais. A motivação do pregador deve ser a mesma de Jesus: ir buscar as ovelhas perdidas, porque no Céu a mais alegria por um pecador que se converte do que por 99 convertidos. Essa é a mola propulsora da evangelização.
Como disse São Paulo: “Tudo o que fizerdes, fazei de bom coração, como para o Senhor e não para os homens, certos de que recebereis a recompensa das mãos do Senhor. Servi a Cristo Senhor” (Col 3, 17.23).
É um grande perigo, uma cilada do inimigo, deixar-se levar pelos aplausos e pelas recompensas. O trabalhador tem direito ao salário; o pregador consagrado, “que vive do Evangelho”, e que não tenha outro rendimento, deve receber o necessário para as suas necessidades e de sua família; mas os outros não devem exigir nada além das despesas da própria missão (transporte, alimentação, etc.). “Dai de graça o que recebestes de graça” (Mt 10,10).


5 – Priorizar as pregações
Quando as solicitações para pregações são muitas, então, será necessário estabelecer um critério para atender aos pedidos mais necessários, que mais necessitam de uma evangelização. Não é apenas o número de ouvintes que mais importa, mas a necessidade das pessoas. Jesus trabalhou mais tempo com doze discípulos, e mais os 72 que enviou dois a dois; mas não deixava de pregara para as multidões. Às vezes um grupo menor produz mais resultado que um grupo grande. É uma tentação deixar de pregar para pequenos grupos, principalmente quando são formadores de opinião (universitários, professores, profissionais liberais, etc.).
6 – Pregar em nome de Cristo e da Igreja
O pregador não é autônomo; é obrigado a pregar segundo o que ensina o Sagrado Magistério da Igreja. Para isso, deve observar criteriosamente o que a Igreja ensina, no Catecismo e nos documentos, sobre o tema que vai pregar. O Magistério explica a Bíblia, que nem sempre é fácil de ser entendida. O pregador não pode proibir o que a Igreja não proíbe; não pode aprovar o que a Igreja não aprova; não pode ensinar o que a Igreja não ensina, e não pode querer saber o que a Igreja não sabe. É um perigo espiritual. Ele não pode discordar nunca de um ensinamento da Igreja. Limite-se a ensinar o que a Igreja sabe e ensina. “A salvação está na verdade” (n. 851), diz o Catecismo. Para ser preparado, o pregador deve estudar sempre. Conhecer bem os dogmas da fé, as verdades sobre os sacramentos, a moral católica, etc…
O pregador não pode querer agradar as pessoas apenas afetivamente com a pregação, mas deve leva-las a meditar com profundidade na sua vida espiritual. Uma dose adequada de sensibilidade é conveniente, mas a conversão não pode ser buscada só por esse caminho. As pessoas imaturas na fé buscam a emotividade espiritual, então, o pregador não pode se perder nisso. Ajuda muito a pregação, os bons livros, sobretudo os escritos dos santos e o estudo de suas vidas.
7 – Preparar bem a pregação
Antes de tudo colocar-se em oração e pedir a luz do Espírito Santo para ser assistido e guiado na pregação; “ouvir a moção interior do Espírito Santo” sobre o assunto a pregar. Em seguida, preparar a pregação usando a Bíblia, o Catecismo, os livros, os documentos, etc.
A pregação deve ser clara, profunda e seguir uma sequência que vá aos poucos tornando mais fácil o entendimento da matéria que se deseja ensinar. Pode-se seguir um esquema escrito, mas sem se prender muito ao papel e à leitura para não cansar os ouvintes. A doutrina explanada sobre um assunto deve ser exemplificada sempre que possível com exemplos concretos e que sirvam de esclarecimento sobre o tema abordado. O uso de parábolas, como Jesus fazia, de histórias adequadas, ajuda o entendimento melhor do assunto, tirando-se delas lições importantes.
8 – Consagrar-se a Deus, aos anjos e aos santos
A pregação visa a mudança de comportamento dos ouvintes segundo o Evangelho. Claramente, o Inimigo de Deus e nosso, não fica satisfeito com isso, e de muitas formas tenta atrapalhar a vida do pregador e a pregação. Portanto, o pregador deve estar sempre em alerta, vigilante, se consagrar a Santíssima Trindade, e se recomendar à Virgem Maria, aos anjos e santos. E não deve temer pelo trabalho a executar, e nem temer o que o Mal possa querer fazer. Nada ele pode fazer sem o consentimento de Deus. Jesus disse: “Eis que Eu estou convosco todos os dias até o fim do mundo” (Mt 28,20). Ele é a segurança do pregador. Se você se preparou e rezou, tenha plena confiança de que a pregação será frutuosa. Nos meus 45 anos de pregador, desde a juventude, nunca vi um Encontro bem preparado dar errado, não ser bem concluído e não dar fruto. A mesma coisa posso dizer das pregações. A obra é de Jesus, Ele cuida dela. A Igreja tem o hábito de terminar as pregações sempre invocando a Virgem Maria e suas virtudes.
9 – O tema da pregação
Este deve ser fornecido, em princípio, por quem a solicita, dentro de um programa a ser cumprido. Se for dado ao pregador a escolha do tema, ele deve ouvir as pessoas que o solicitaram para saber da necessidade espiritual do grupo para o qual vai pregar. Se isso não for possível, peça ao Espírito Santo que o ilumine para escolher o tema. Conheça para quem você vai pregar, o nível intelectual das pessoas, as maiores necessidades espirituais, e use os recursos adequados a cada auditório e local (microfone, data show, slides, música, encenação, etc.). é muito importante escolher bem esses recursos e prepara-los bem.
10 – Saiba ouvir as críticas construtivas
O pregador pode errar em alguma afirmação; eu já errei várias vezes. E o seu compromisso não pode ser consigo, mas com a verdade ensinada pela Igreja. “A Igreja é a coluna e o fundamento da verdade” (1Tm 3,15). Então, devemos dar graças a Deus quando alguém nos corrige; não podemos ficar magoados ou feridos. Não, confira se foi erro mesmo e faça a correção como for possível. A observação dos irmãos nos ajuda na vida de pregador; eles nos incentivam, comprovam o bom trabalho, etc..




Nenhum comentário:

Postar um comentário