Algumas pessoas me procuram dizendo que se sentem
chamadas a pregar e querem saber o que é preciso para se preparar
bem para essa missão. Por exemplo, um rapaz me escreveu:
“Sou pregador da RCC (Renovação Carismática
Católica), mas sinto desejo de me aprofundar na formação
teológica. Gostaria de um direcionamento de o que começar estudar e
a fazer? Por onde começar?”
Vou colocar aqui algumas sugestões que me ajudam
na missão de pregar e escrever. Antes de tudo, esse é um belo
chamado de Deus, especialmente para aqueles que receberam a graça de
saber se expressar bem, o dom da pregação. Digo isso em relação à
pregação para o público; todos são chamados a difundir o
Evangelho, ainda que não seja para grupos de pessoas e auditórios.
“Ai de mim se eu não evangelizar!” (1 Cor 9,16).
1 – Cuidar bem da vida espiritual
O pregador precisa ter uma vida de oração
contínua, ter comunhão com Deus. Jesus disse: “Sem Mim nada
podeis fazer” (João 15,5); muito menos em se tratando de levar as
pessoas a Deus. Sem vida de oração não é possível ser bom
pregador, ou seja, transmitir aos outros “O que Deus quer”. Santo
Agostinho dizia: “falar com Deus, mais do que falar de Deus”. A
pregação de quem não ora, é vazia, não toca as pessoas. Na
pregação temos de passar aos outros “aquilo que recebemos de Deus
na oração”; e isso só e possível com intimidade com Deus, na
vida sacramental (Eucaristia e Confissão frequentes), na meditação
da Palavra de Deus, na leitura de bons livros espirituais, etc..
2 – Cuidado com seu comportamento
O contra testemunho decepciona as pessoas. Papa
Paulo VI disse que “o mundo quer mais testemunhas do que mestres”.
A luta contra todo tipo de pecado deve ser uma preocupação
permanente. O pregador está a serviço de Cristo e da Igreja, sua
responsabilidade é grande. “Vigiai e orai, porque o espírito é
forte, mas a carne é fraca”; também a do pregador. Mas, somos
pecadores; nem por isso o pregador deve deixar de pregar por causa de
seus pecados; a menos que seja algo muito grave e que se tornou um
contra testemunho muito sério para as pessoas. Se cair, levante-se
imediatamente e continue a caminhada para Deus. Deixar a pregação
por causa dos pecados pode ser uma tentação.
3 – Buscar continuamente a santidade
O Papa João Paulo II disse que “a santidade é
a força mais poderosa para levar Cristo às pessoas”. Os santos
abalaram o mundo, e a maioria deles sem usar avião, computador e,
microfone. Basta olhar para os exemplos de São Francisco, Santo
Inácio de Loyola, São João Bosco, Santa Teresa, Santa Teresinha,
São João Vianney… abalaram o mundo pela força da sua santidade.
Estou convencido de que em primeiro lugar o pregador deve buscar a
santidade. Se ele fizer isso, Deus vai chamá-lo para muitas missões,
sem ele precisar se oferecer para isso. Deus disse a Abrão: “Anda
na minha presença e sê integro” (Gen 17,1). De nada adianta um
bom microfone sem que haja por trás alguém que busque a santidade.
Deus usa os pregadores que buscam a santidade. Daí a importância do
pregador se examinar continuamente e se confessar sempre.
Bem nos lembrava São Francisco de Assis que
dizia: “Pregue o evangelho em todo tempo, se necessário use
palavras”. Ou seja, mais do que pregar com palavras, o principal é
pregar com a vida!
4 – Trabalhar com “reta intenção”
Pregar por amor a Jesus e pela salvação das
almas; isto é, só por Jesus, nada mais. A motivação do pregador
deve ser a mesma de Jesus: ir buscar as ovelhas perdidas, porque no
Céu a mais alegria por um pecador que se converte do que por 99
convertidos. Essa é a mola propulsora da evangelização.
Como disse São Paulo: “Tudo o que fizerdes,
fazei de bom coração, como para o Senhor e não para os homens,
certos de que recebereis a recompensa das mãos do Senhor. Servi a
Cristo Senhor” (Col 3, 17.23).
É um grande perigo, uma cilada do inimigo,
deixar-se levar pelos aplausos e pelas recompensas. O trabalhador tem
direito ao salário; o pregador consagrado, “que vive do
Evangelho”, e que não tenha outro rendimento, deve receber o
necessário para as suas necessidades e de sua família; mas os
outros não devem exigir nada além das despesas da própria missão
(transporte, alimentação, etc.). “Dai de graça o que recebestes
de graça” (Mt 10,10).
5 – Priorizar as pregações
Quando as solicitações para pregações são
muitas, então, será necessário estabelecer um critério para
atender aos pedidos mais necessários, que mais necessitam de uma
evangelização. Não é apenas o número de ouvintes que mais
importa, mas a necessidade das pessoas. Jesus trabalhou mais tempo
com doze discípulos, e mais os 72 que enviou dois a dois; mas não
deixava de pregara para as multidões. Às vezes um grupo menor
produz mais resultado que um grupo grande. É uma tentação deixar
de pregar para pequenos grupos, principalmente quando são formadores
de opinião (universitários, professores, profissionais liberais,
etc.).
6 – Pregar em nome de Cristo e da Igreja
O pregador não é autônomo; é obrigado a pregar
segundo o que ensina o Sagrado Magistério da Igreja. Para isso, deve
observar criteriosamente o que a Igreja ensina, no Catecismo e nos
documentos, sobre o tema que vai pregar. O Magistério explica a
Bíblia, que nem sempre é fácil de ser entendida. O pregador não
pode proibir o que a Igreja não proíbe; não pode aprovar o que a
Igreja não aprova; não pode ensinar o que a Igreja não ensina, e
não pode querer saber o que a Igreja não sabe. É um perigo
espiritual. Ele não pode discordar nunca de um ensinamento da
Igreja. Limite-se a ensinar o que a Igreja sabe e ensina. “A
salvação está na verdade” (n. 851), diz o Catecismo. Para ser
preparado, o pregador deve estudar sempre. Conhecer bem os dogmas da
fé, as verdades sobre os sacramentos, a moral católica, etc…
O pregador não pode querer agradar as pessoas
apenas afetivamente com a pregação, mas deve leva-las a meditar com
profundidade na sua vida espiritual. Uma dose adequada de
sensibilidade é conveniente, mas a conversão não pode ser buscada
só por esse caminho. As pessoas imaturas na fé buscam a emotividade
espiritual, então, o pregador não pode se perder nisso. Ajuda muito
a pregação, os bons livros, sobretudo os escritos dos santos e o
estudo de suas vidas.
7 – Preparar bem a pregação
Antes de tudo colocar-se em oração e pedir a luz
do Espírito Santo para ser assistido e guiado na pregação; “ouvir
a moção interior do Espírito Santo” sobre o assunto a pregar. Em
seguida, preparar a pregação usando a Bíblia, o Catecismo, os
livros, os documentos, etc.
A pregação deve ser clara, profunda e seguir uma
sequência que vá aos poucos tornando mais fácil o entendimento da
matéria que se deseja ensinar. Pode-se seguir um esquema escrito,
mas sem se prender muito ao papel e à leitura para não cansar os
ouvintes. A doutrina explanada sobre um assunto deve ser
exemplificada sempre que possível com exemplos concretos e que
sirvam de esclarecimento sobre o tema abordado. O uso de parábolas,
como Jesus fazia, de histórias adequadas, ajuda o entendimento
melhor do assunto, tirando-se delas lições importantes.
8 – Consagrar-se a Deus, aos anjos e aos
santos
A pregação visa a mudança de comportamento dos
ouvintes segundo o Evangelho. Claramente, o Inimigo de Deus e nosso,
não fica satisfeito com isso, e de muitas formas tenta atrapalhar a
vida do pregador e a pregação. Portanto, o pregador deve estar
sempre em alerta, vigilante, se consagrar a Santíssima Trindade, e
se recomendar à Virgem Maria, aos anjos e santos. E não deve temer
pelo trabalho a executar, e nem temer o que o Mal possa querer fazer.
Nada ele pode fazer sem o consentimento de Deus. Jesus disse: “Eis
que Eu estou convosco todos os dias até o fim do mundo” (Mt
28,20). Ele é a segurança do pregador. Se você se preparou e
rezou, tenha plena confiança de que a pregação será frutuosa. Nos
meus 45 anos de pregador, desde a juventude, nunca vi um Encontro bem
preparado dar errado, não ser bem concluído e não dar fruto. A
mesma coisa posso dizer das pregações. A obra é de Jesus, Ele
cuida dela. A Igreja tem o hábito de terminar as pregações sempre
invocando a Virgem Maria e suas virtudes.
9 – O tema da pregação
Este deve ser fornecido, em princípio, por quem a
solicita, dentro de um programa a ser cumprido. Se for dado ao
pregador a escolha do tema, ele deve ouvir as pessoas que o
solicitaram para saber da necessidade espiritual do grupo para o qual
vai pregar. Se isso não for possível, peça ao Espírito Santo que
o ilumine para escolher o tema. Conheça para quem você vai pregar,
o nível intelectual das pessoas, as maiores necessidades
espirituais, e use os recursos adequados a cada auditório e local
(microfone, data show, slides, música, encenação, etc.). é muito
importante escolher bem esses recursos e prepara-los bem.
10 – Saiba ouvir as críticas
construtivas
O pregador pode errar em alguma afirmação; eu já
errei várias vezes. E o seu compromisso não pode ser consigo, mas
com a verdade ensinada pela Igreja. “A Igreja é a coluna e o
fundamento da verdade” (1Tm 3,15). Então, devemos dar graças a
Deus quando alguém nos corrige; não podemos ficar magoados ou
feridos. Não, confira se foi erro mesmo e faça a correção como
for possível. A observação dos irmãos nos ajuda na vida de
pregador; eles nos incentivam, comprovam o bom trabalho, etc..
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