O cientista Ernest
Mayr, morto aos cem anos de idade, alemão de nascimento, nos longos anos de sua
existência escreveu 26 livros sobre ornitologia, taxonomia, biogeografia e
evolução. Em 1942 deixou a Alemanha assumindo a direção do Museu Americano de
História Natural.
Ainda jovem havia passado dois anos pesquisando nas
montanhas Ciclopes, da Nova Guiné. Vários cientistas escreveram elogiosamente
sobre sua pessoa, pesquisas e escritos. Entre os livros mais conhecidos que
escreveu estão “Sistemática e Origem das Espécies” e “O Que é Evolução”.
Em
anos difíceis para a teoria do darwinismo, Ernest Mayr apresentou novos
argumentos a favor da evolução das espécies animais. Transformou-se no “Darwin
do Século XX”, sem dúvida um cientista renomado. Seus estudos o levaram, com
outros evolucionistas, a formar a Escola conhecida como Moderna Síntese
Evolucionista, unindo os estudos de Charles Darwin (1809-1882) com a Genética, a
Biologia e a Paleontologia. Em certa oportunidade quando lhe perguntaram quando
se tornara evolucionista respondeu que “nascera darwinista”.
Por uma
coincidência que, pessoalmente, tenho como providencial, nos dias em que Ernest
Mayr agonizava, o criacionismo retornava ao debate público nos Estados Unidos e
entre nós, sob a liderança de cientistas como o físico Marcelo Gleiser, da
Universidade Dartmouth, de New Hampshire, a geóloga Elaine Kennedy, do Instituto
Geoscience Research, o biólogo Stephen Jay Gould, o norte-americano Michael
Behe, este a estrela do “design inteligente”. Todos voltaram a repropor o
criacionismo o último sem recorrer ao texto bíblico, como costumam fazer os
evangélicos fundamentalistas e tantos outros.
Sintetizando as coisas, segundo
os darwinistas a partir do livro “A Origem das Espécies”, do inglês Charles
Darwin, animais inferiores, durante milênios, foram evoluindo para espécies
superiores, passando pelos primatas, dando no homem e na mulher, nesta
seqüência: Homo erectus, Homo faber e Homo sapiens. Como os darwinistas,
também os criacionistas dividem-se em dois grandes grupos.
O primeiro fazendo
uma exegese literal do texto do livro do Gênesis, afirmando ser Deus, por ação
direta, o Criador de todas as espécies vivas e, de modo especial, da espécie
humana. O primeiro casal humano não resultou, portanto, de uma longa milenar
evolução das espécies animais, mas surgiu de uma ação onipotente e sábia do
próprio Deus. O segundo grupo vem se afirmando como uma corrente científica que,
sem apelar para a Bíblia, nega a evolução das espécies dizendo que “grande parte
das estruturas biológicas humanas são complexas demais para terem surgido de
acordo com o modelo darwinista de acúmulo gradual de modificações aleatórias”.
Acrescentam eles haver muitos “buracos” na teoria evolutiva “como o súbito
aparecimento de formas de vida espantosamente variadas no período cambriano”.
Sem a interferência de um “Projetista inteligente” (= Deus), não se explica nem
a impressionante diversidade das espécies vivas e muito menos, da espécie
humana.
Os opositores do darwinismo que defendem o criacionismo, insistem que
a evolução não é senão uma teoria ou hipótese cientificamente ainda não
comprovada. Acrescentam que é muito improvável e até impossível que estruturas
altamente diferenciadas, como uma proteína ou uma célula viva apareçam por
acaso, que as mutações a que apelam os evolucionistas não produzem novos traços
e, finalmente, que a Biologia Molecular não confirma a evolução das espécies. O
darwinismo é pois uma teoria que, no atual estágio das ciências, não passa de
uma possível hipótese.
Oficialmente, a Igreja Católica e o Magistério dos
Papas não excluem a possibilidade da teoria evolucionista, desde que o início do
processo evolutivo tenha tido origem partindo de Deus. Ele, o Criador, seria o
autor das possíveis leis da evolução que, atuando durante milênios e milênios
teriam resultado no primeiro casal humano.
Assim, a hipótese darwinista
da evolução das espécies, até dos primatas de que teria surgido o homem, é uma
possível explicação ao lado do criacionismo que, também, tem a seu favor fortes
razões filosóficas e não apenas religiosas ou bíblicas.
No momento em que
teria havido o salto do animal irracional para o racional, tornou-se necessária
uma nova intervenção divina no processo evolutivo, se é que houve! Nesse momento
Deus interviu no processo criando e infundindo uma alma humana, racional, na
nova espécie superior a todas as demais, a espécie humana, inteligente,
consciente e livre.
O evolucionismo não materialista, mas mitigado ou
“espiritualista”, conduzido pelo próprio Deus, entendido dentro desses limites,
poderá ser admitido pelos que professam a fé católica. Em todo caso, Deus é o
Criador de tudo e, portanto, também do homem e da mulher.
A esse respeito,
leia o interessado a encíclica “Humani Generis”, do Papa Pio XII, do ano de
1950. Se desejar mais informações poderá, também, ler o substancioso livro do
culto beneditino Dom Estevão Bittencourt “Ciência e Fé na História dos
Primórdios”, editado pela AGIR em 1955. Ficaria honrado se pudesse merecer a
leitura do capítulo “Gênesis: Origem do Homem”, do meu livro “Iniciação à
Leitura da Bíblia”, já com cinco edições (Editora Santuário, 2004, páginas 33 a
36).
Filosoficamente, o acaso nada explica sendo a “razão dos que não têm
razões!”. A todo efeito sempre deve corresponder uma causa adequada que o
explique. Inerte como é, a matéria jamais poderia tornar-se viva por si mesma e
é impossível que seres irracionais, por mais evoluídos e perfeitos que sejam,
como os primatas, expliquem sem uma interferência de um Ser inteligente e
pessoal, livre, onipotente e vivo, a origem da espécie humana.
Chame-se o
primeiro casal humano Adão (=feito do pó) e Eva (=mãe dos viventes) ou
desse-lhes outros nomes, a espécie humana, todas as raças humanas, descendem
desse par de protoparentes. Feitos “à imagem e semelhança” de Deus (Gn 1,26)
somos todos irmãos e irmãs entre nós, chamados a vivermos em fraternidade e
solidariedade.
(D. Amaury Castanho)