Não é demais voltar ao assunto quando não
passa um dia sem que a mídia abra espaços para a decisão do Conselho de
Magistratura do TJ/RS. Viva! Mais uma façanha do Rio Grande. Noutra despachamos
a Ford. Nesta, os crucifixos, enxotados e empacotados.
Há uma peculiaridade passando batida
nessa história. Quem é, mesmo, que quer a remoção? Até hoje, não vi entre as
manifestações de apoio à determinação uma única que tenha sido emitida por
qualquer das centenas de confissões religiosas em consideração às quais se diz
que foi decretada. Embora o relator do processo tenha escrito que o cidadão
judeu, o muçulmano, o ateu, ou seja, o não cristão, tem o mesmo direito
constitucionalmente assegurado de não se sentir discriminado pela ostentação de
símbolo expressivo de outra religião em local público, ninguém, de crença
alguma, se manifestou, mesmo que fosse para um simples e protocolar "muito
obrigado". Por quê? Por que lhes ficou inequívoco terem sido usados para
intenções que também lhes são hostis
As
próprias entidades que requereram a retirada dos crucifixos articulam-se em
torno de comportamentos sexuais e não sobre religião ou religiões. Nesse mesmo
viés, se observamos com acuidade iniciativas análogas, será forçoso perceber
que tampouco provêm de crentes ou ateus num sentido genérico, mas de pequena
parcela destes últimos - os ateus militantes. Suas manifestações,
sistematicamente, se voltam contra o que os símbolos representam, ou seja, as
religiões, cuja influência na sociedade anseiam por eliminar. Mostram,
especialmente em relação ao cristianismo, animosidade e um conhecimento de
panfleto. Sempre mencionam Cruzadas, Inquisição e Galileu, mas parecem
incapazes de escrever meia página séria sobre esses temas pois tudo que
repetem, vida afora, foi o que ouviram por aí, servido como nutrição
ideológica. Desculpem-me o sarcasmo, mas passei os últimos dias lendo tais
tolices aportadas anacronicamente como se fossem argumentos para justificar a
retirada dos crucifixos! Pior do que desconhecer pelo não uso da inteligência é
conhecer raivosamente pelo uso do fígado. Corre-se o risco de passar por cima
do tesouro e ir catar lixo logo adiante. Esse exótico discernimento, assumido
nos poderes de Estado, resulta danoso à identidade nacional, ofensivo à história
do Brasil, depreciativo ao que há de melhor na civilização ocidental e
agressivo a um bem do espírito e da cultura considerado precioso pela imensa
maioria do povo deste país! Mas a história ensina: é preciso gerar descrédito
ao que merece respeito para, depois, exigir respeito ao que não merece.
De
um artigo de Percival Puggina – Paredes Nuas
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