Fomos criados e existimos como pessoas porque nos
comunicamos uns com os outros. Temos mente, coração, voz, para nos
relacionarmos entre si. Somos seres sociais e como tal, nascemos para viver em
comunidade. E a primeira comunidade, formadora de nossos valores, é a família.
Deus nos criou homem e mulher para juntos povoarmos a terra:
“Deus criou o homem à sua imagem; criou o
homem e a mulher. Deus os abençoou; frutificai – disse ele – e multiplicai-vos,
enchei a terra e submetei-a” (Gn1, 27-28a). O matrimônio, união física e
sentimental entre homem e mulher formando um casal, é o inicio de uma nova
família: “Por isso o homem deixa seu pai
e sua mãe para se unir à sua mulher e já não são mais que uma só carne” (Gn
2,24). Assim começa uma nova família, família idealizada por Deus e aceita de
modo natural e incutida em nós ao longo do tempo e da história da civilização.
Não há outro meio de ser família, mesmo que alguns tentem perverter a moral
desvirtuando o conceito básico de família. A estrutura familiar começa assim
desde sempre.
A família é por natureza e vocação, geradora de vida. Não só
de vida biológica, mas também de vida espiritual. No seio da família os valores
da vida cristã (para os cristãos naturalmente) são formados. Da união carnal de
nossos pais nascemos para a vida material, mas da união fraterna, do testemunho
de amor, do ensino continuado por ações e por palavras, somos formados para a
convivência com outros seres humanos. Da união do “eros com o filos” somos o
que somos. Mas quando se soma o “ágape” nos tornamos ainda melhores. Quando
junto à ética e moral universalmente aceitas para a convivência salutar, se
junta a ética e moral cristã através dos ensinamentos bíblicos e catequéticos,
nos tornamos cidadãos melhores. Quando
filhos são gerados e criados no amor, preparados para a vida e educados na fé,
não são criados para o mundo, são criados para Deus.
No entanto, nos tempos modernos a família é aviltada,
ignorada. O conceito de família é deturpado. Fala-se em “novas famílias”,
“casais modernos”, “casamento aberto”, tudo isso para justificar conceitos
modernosos onde se diz que casamentos e famílias tradicionais são instituições
falidas. Como falidas se são idealizações de Deus? Deus é perfeitissimo, infalível,
irrefutável!
Na sociedade erotizada de hoje busca-se tão somente a
satisfação pessoal em detrimento do sentimento e do anseio do outro; amor é a
posse transitória do corpo do parceiro. Existe uma cultura que deturpa o
relacionamento homem-mulher. A maioria dos relacionamentos são vazios,
desprovidos de afetividade e ternura e que duram somente enquanto houver
atração física. Não tem mais “sex-appeal” não tem mais amor; o tempo passou, a
beleza se foi, o amor também. São
relacionamentos egoístas, onde não se enxerga o outro como um ser amado,
respeitado, contemplado no sentido amplo do que seja contemplação; mas sim como
mero objeto a ser usado e descartado. Usou, enjoou, jogou fora. Daí a família
aviltada, deturpada, vilipendiada.
Existem organizações e institutos, a grande mídia divulga, que
lutam pela preservação das baleias, das florestas, do meio ambiente, dos
direito humanos, entre outros. A mídia divulga e enaltece. Mas quando se trata
de preservar os valores morais, a família tal qual ela é, a ética e a verdade
milenar, as grandes e poderosas organizações midiáticas se omitem ou, pior, não
poucas vezes atacam e denigrem aqueles que defendem tais valores,
particularmente à Igreja. É a inversão dos valores, o certo pelo errado, a
aversão pela intolerância e por aí vai. Se somos contra a promiscuidade sexual,
somos retrógrados, temos pensamentos arcaicos, ainda estamos no século passado;
se não aceitamos o homossexualismo, somos homofóbicos, intolerantes; se lutamos
contra as drogas, somos caretas e antiquados. O que chamam de retroação,
intolerância, fobias, caretice, é na verdade coragem. Coragem de nadar contra a
corrente, de enfrentar as mentiras e ciladas de gente sem escrúpulos que querem
a todo custo impor sua vontade usando de maneira vil e covarde, pessoas muitas
vezes carente e sofridas, como massa de manobra. Deus nunca dorme, mas Satanás descansa e até
tira férias, pois tem quem aqui trabalhe por ele.
Sejamos defensores dos valores universalmente aceitos e incutidos
desde o inicio na memória subjetiva da humanidade. Sejamos defensores
principalmente daquilo que aprendemos desde nossa infância de nossos pais,
professores, catequistas: a convivência fraterna; a aceitação do diferente,
mesmo que não concordemos com o fator de diferença; o diálogo franco e cordial,
num debate de ideias e não de posições; enfim, sejamos educados como nos
formaram nossos pais, na primeira sociedade, na comunidade primária, onde fomos
gerados para a vida e para Deus: a família.
(Carlos Nunes)