sexta-feira, 28 de junho de 2019

OS DOIS CAMINHOS



“Feliz o homem que não procede conforme o conselho dos ímpios, não trilha o caminho dos pecadores, nem se assenta entre os escarnecedores.
Feliz aquele que se compraz no serviço do Senhor e medita sua lei dia e noite.
Ele é como a árvore plantada na margem das correntes: dá fruto na época própria, sua folhagem não murchará jamais. Tudo o que empreende prospera.
Os ímpios não são assim! Mas são como a palha que o vento leva.
Por isso não suportarão o juízo, nem permanecerão os pecadores na assembléia dos justos.
Porque o Senhor vela pelo caminho dos justos, ao passo que o dos ímpios leva à perdição.”(Salmo 1)
Eis nesse salmo a inevitável dicotomia bem e mal, pecado e virtude, justiça e iniquidade. Nossa vida se apresenta assim mesmo, ser ou não ser, ir ou não ir. Nossa vida é feita de escolhas e dependendo da opção feita, caminhamos firme ou tropeçamos. Assim sendo, é como se diante de nós se apresentassem duas estradas, dois caminhos a seguir. Ninguém, nem Deus nos obriga a ir por essa ou aquela, somos livres para escolher nosso caminho e a opção feita é inteiramente responsabilidade nossa. Somos livres até mesmo para errar; até para pecar, se bem que ao escolher o pecado nos tornamos escravos dele.
As estradas propostas são divergentes e levam a destinos longínquos entre si. Uma conduz a porta estreita, outra ao caminho largo da perdição. (cf. Mt 7,13-14). Ao longo da jornada estes caminhos se interligam; é possível passar de um a outro a qualquer tempo.  Se escolhemos o caminho errado, percebemos o erro e resolvemos mudar,   podemos tomar a trilha que leva ao outro caminho e desta vez na estrada certa continuar a caminhada. Por outro lado, ao estar no rumo certo, nos momento de indecisão, dúvida, ou abalos, não poucos enveredam por outros caminhos e acabam se dirigindo a perdição.
Portanto, enquanto caminhamos não temos certeza de nada. Assim, por nossos méritos nada podemos afirmar a respeito de salvação ou condenação. A certeza da salvação não existe enquanto não se chega ao fim do caminho, até porque a pretensa certeza da salvação por si só é um grande perigo, pois essa pretensão leva ao descuido e isso é causa de queda para muitos (Orar e vigiar...). Da mesma forma jamais podemos dizer que este ou aquele está irremediavelmente perdido, pois a conversão pode ocorrer no último instante e só Deus sonda e conhece os corações (Ainda hoje estarás comigo no paraíso...).
Sendo assim se quisermos prosseguir no rumo que leva à porta estreita, caminho difícil e muitas vezes pedregoso, cheio de dificuldades, não podemos fazê-lo sozinhos; esse caminhar só é possível de mãos dadas com Jesus, guiados pelo Espírito Santo rumo ao Pai. Sós, a estrada se nos apresenta tortuosa e com montanhas que nos parecem intransponíveis; com Jesus a estrada se apresenta reta e os montes são aplainados, toda dificuldade do caminho se extingue e o caminhar se faz com alegria, pois o Senhor vela pelo nosso caminho. 


sexta-feira, 21 de junho de 2019

Denúncia-Causa de perseguições



O texto a seguir é a sinopse de uma pregação baseada na pericope Os 9,7-9 (livro do profeta Oséias).
Israel é o povo escolhido. Eleito por Deus para ser seu povo. A eleição de um povo por Deus não é privilégio; é responsabilidade, exigência, compromisso, e por conseguinte, passível de cobranças.
Deus escolheu seu povo, povo amado, mas esse povo virou-lhe as costas , desobedecendo, sendo infiel adorando outros (falsos) deuses. Como muitas vezes nós fazemos. Nossa infidelidade consiste em ouvir e seguir maus conselhos; prestar ouvidos aos clamores sedutores do mundo que nos rodeia. Ambiente corrompido pela concupiscência humana exacerbada pelas forças do mal.
Na verdade o anunciado no texto de Oséias não é uma ameaça de castigo, uma punição, e sim a denuncia de situações de pecado – pecado não só pessoal, mas também pecado social – com as inevitáveis consequências.  As palavras, duras que sejam, são palavras de amor, pois quem ama educa, adverte, corrige.
Santo Agostinho cita: “Não imponha a verdade sem caridade; mas, por outro lado, não sacrifique a verdade em nome da caridade”. Ou seja, o profeta deve anunciar, mas tem o dever de denunciar. Anunciar a boa nova, mas também apontar o pecado do povo de Deus. Apesar de não sermos profetas de desventuras e sim anunciadores da esperança, não podemos fazer vistas grossas ao mal que nos cerca. Citando outro santo, São João Eudes que viveu no século XVII: “Quando pregares usa as armas poderosas da Palavra de Deus para combater, destruir e esmagar o pecado; mas quando encontrares com o pecador, fala-lhe com bondade, benignidade, paciência e caridade”.
Contudo, conhecemos pregadores que gostam de adular seus ouvintes e evitam exortá-los. Pregam aquilo que o povo gosta de ouvir e não aquilo que precisam ouvir. Quando o Senhor os inspira oferecendo um pote de mel para adoçar a boca do seu povo esses pregadores abraçam com sofreguidão. Porém quando lhes é oferecido um chicote, eles não aceitam; costumam dizer que não é seu estilo de pregação.
Vivemos numa sociedade que deseja cada vez mais uma vida sem limites, sem renuncias, sem preceitos e claro, sem proibições. Por isso quando denunciamos somos perseguidos. Por isso a Igreja de Cristo é vilmente caluniada, seus ministros aviltados e achincalhados. Leviandade e falácias são levantadas contra aqueles que denunciam e apontam o pecado, principalmente os pecados sociais. Sofrem perseguições como os profetas do Antigo Testamento, que ainda tinham contra si os falsos profetas de benesses.
Já dissemos, não somos profetas de desventuras nem desgraças, mas anunciadores do evangelho e da esperança; mesmo que para isso tenhamos que exortar severamente, como pais a educar e corrigir os filhos: “Logo que escutares um oráculo saindo de minha boca, tu lho transmitirás da minha parte. Se digo ao malévolo que ele vai morrer,   e tu não lhe falas para pô-lo de sobreaviso devido a seu mal proceder, de modo que ele possa    viver, ele há de perecer por causa de seu delito, mas é a ti que pedirei conta de seu sangue.  Contudo, se depois de advertido por ti, não se corrigir da malicia e perversidade, ele perecerá por causa de seu pecado, enquanto tu hás de salvar tua vida” (Ezequiel 3,18-19). Como vimos, é questão de obediência e sobrevivência. Queremos viver a eternidade em Cristo, por isso devemos ser obedientes mesmo correndo o risco da perseguição dos falsos profetas e dos ateus.
Esta profecia nos foi dada: “Eu sou a tua verdade. Tu que andas perdido. Tu que vagueias em ziguezague pelos caminhos que o mundo te oferece , saiba, há um único caminho: aquele que tracei e aponto. Vinde comigo. Eu sou a tua verdade”. Sigamos Jesus, verdadeiro mestre e Senhor. Assim seja.
(Carlos Nunes)


sexta-feira, 14 de junho de 2019

Viver pra mim é Cristo



O filósofo chinês Confúcio (sec. V A.C) deixou um aforismo que nos faz refletir: “Quando nascestes todos riam só tu choravas. Viva de tal modo que quando morreres  todos chorem, só tu rias”. Como o pensamento de um filósofo pagão pode ser aplicado a minha vida, sendo eu cristão? Pode sim ser aplicado, pois apesar de cristãos, não devemos ser fideístas extremados. No mais, este pensamento não fere nem interfere negativamente na doutrina cristã.
Como rir com, ou diante da própria morte? Se vivemos em Cristo, em Cristo e com Cristo morremos, é motivo mais que suficiente para não temer a morte e passar para a vida eterna em paz, na certeza da plenitude na companhia dos santos e dos anjos, da contemplação da face de Deus. 
Viver de tal modo que ao morrer todos chorem, só tu rias... Rir, sorrir, enfim alegrar-se, não temer. O cristão autêntico não teme a morte, pois crê na vida eterna, na ressurreição. Cristo ressuscitou, ascendeu ao Pai e há de voltar para resgatar os seus. Neste dia que há de vir não sabemos quando, mas virá, todos serão contemplados; os vivos sobre a terra terão seus corpos transformados e as almas dos que se foram, ressuscitarão num corpo incorruptível. Uns para a glória, outros para a condenação. Esta é a nossa fé.  Se vivermos de modo a conquistar a glória eterna, não teremos o que temer.
Jesus Cristo morreu, ressuscitou, subiu aos céus. Morreu morte de cruz para que pudéssemos viver, ressuscitou para nos dar vida eterna, e na ascensão nos abriu as portas do paraíso. Isto Jesus fez por nós; é promessa de Deus para nós a vida eterna com Ele na Glória. É nosso direito, mas não podemos afirmar que é garantido. Por parte Dele por certo, mas de nossa parte nem tanto. O céu é direito nosso, nos espera, mas temos que conquistá-lo. Se vivermos de modo a conquistar... Está escrito acima. Então o que fazer? Aquilo que Jesus Cristo nos pede, ou seja: amar a Deus sobre tudo; amar ao próximo como a si mesmo; respeitar o outro, ainda que esse outro seja diferente de você; perdoar sempre; fazer o nome de Jesus conhecido e amado. Em suma, vivenciar as virtudes teologais: fé, esperança e amor.
Em outra oportunidade dissemos que cristão é alguém que imita Cristo e por extensão aqueles que no lo apresentaram: Maria, os Apóstolos, os Santos. Se quisermos viver conforme a palavra, os ensinamentos de Cristo, os mandamentos de Deus, imitemos aqueles que doaram suas vidas, alguns literalmente, pela causa do Evangelho. Possamos realmente dizer como São Paulo Apóstolo: “Não sou mais eu que vivo, mas cristo que vive em mim”. (Gl 2,20) E ainda: “Viver para mim é Cristo, morrer para mim é ganho” (Fl 1,21).  Imitemos pois aqueles por cujas virtudes valem ser imitados.



sábado, 8 de junho de 2019

Pentecostes



Era noite da festa judaica de pentecostes, o quinquagésimo dia após a páscoa em que se comemorava o dia da colheita. Estavam os discípulos de Jesus reunidos com Maria no cenáculo, em oração, quando repentinamente soprou um vento impetuoso e do alto desceram como que línguas de fogo que se repartiram e repousaram sobre os presentes; todos começaram então a orar ruidosamente e falar em línguas estranhas. Este relato descreve o derramamento do Espírito Santo prometido por Jesus Cristo momentos antes de sua gloriosa ascensão (cf. At 2,1-4).
A noite-madrugada de pentecostes é também o nascimento da Igreja. Igreja planejada no coração do Pai desde o principio do tempo e configurada no povo hebreu peregrino no deserto em busca da terra prometida. Igreja concebida na cruz pelo sangue de Cristo e revelada ao mundo quando inicia sua jornada missionária na manhã de pentecostes. Para a Renovação Carismática Católica é um dia especial. Especial porque além do inicio da missão da Igreja, é também a primeira manifestação publica dos carismas extraordinários do Espírito. Ou seja, podemos também dizer que pentecostes foi o primeiro grupo de oração carismático. Não há como negar, a Igreja nasceu carismática! A Igreja foi, é e sempre será carismática por vontade de Deus Pai, pelo nome de Jesus e pela ação continua do Espírito Santo.
Deus sustenta essa Igreja em nome do Pai, do Filho, do Espírito Santo. Igreja Santa e pecadora. Santa enquanto Divina governada pelo Espírito Santo; pecadora enquanto humana, formada por homens e mulheres imperfeitos. Mas apesar de nossa imperfeição e tibieza, temos (aqueles que se abrem à sua ação) a assistência do Espírito Divino que nos conduz ao caminho da santidade: Jesus Cristo, mediador junto ao Pai Eterno.
A Igreja, hoje achincalhada, agredida, atacada devido a atitudes erradas de alguns de seus membros é apesar de tudo, eterna.  Peregrina nesta terra, imperfeita como o povo peregrino no deserto a murmurar e pecar contra Deus, mas peregrina sempre e buscando (insisto: os que se abrem à ação do Espírito Santo e se deixam governar por Ele) a conversão e a consequente santidade. Peregrina e militante nesse mundo, mas eterna e gloriosa no alto dos céus, onde estão as almas que concluíram a jornada e lograram cruzar o Jordão. A Jerusalém Celeste do Apocalipse com as doze portas, as doze tribos de Israel, os doze apóstolos que desde pentecostes perpetualizam a Santa Igreja Católica.