sexta-feira, 19 de outubro de 2018

A Pessoa do Espirito Santo



A Pessoa do Espírito Santo sempre acompanhou a historia da salvação, desde o inicio da revelação Divina no Antigo Testamento. No inicio de maneira velada, implicitamente: “O Espírito de Deus pairava sobre as águas.” (Gn 1,2); “Por ventura não clama a Sabedoria e a inteligência não eleva a sua voz? Eu, a Sabedoria, sou amiga da prudência, possuo uma ciência profunda” (Pr 8,1.12); “A Sabedoria não entrará na alma perversa, nem habitará no corpo sujeito ao pecado; o Espirito Santo educador (das almas) fugirá da perfídia, se afastará dos pensamentos insensatos. Sim, a Sabedoria é um espírito que ama os homens, mas não deixará sem castigo o blasfemador pelo crime dos seus lábios. Com efeito, o Espirito do Senhor enche o universo e ele que tem unidas todas as coisas, ouve toda voz” (Sb 1,4-7); “Dentro de vós colocarei   meu Espirito, fazendo com que obedeçais as minhas leis e sigais e observais os meus preceitos” (Ez 36,27); Depois disso acontecerá que derramarei o meu espírito sobre todo ser vivo: vossos filhos e filhas profetizarão; vossos anciãos terão sonhos e vossos jovens terão visões” (Jl 3,1). Nestes tempos o Espirito Santo só era dado aos Profetas, homens especialmente eleitos por Deus.
O Espírito Santo como pessoa Divina só foi plenamente apresentado no Novo Testamento, através de Jesus Cristo, com a revelação da Santíssima Trindade: “Depois que Jesus foi batizado, saiu logo da água. Eis que os céus se abriram e viu descer sobre ele, em forma de pomba, o Espirito de Deus. e do céu baixou uma voz: ‘Eis meu filho muito amado em quem ponho minha afeição” (Mt 3,16). A partir daí o Espirito Santo nos é apresentado tal como o conhecemos.
Entretanto o Espirito Santo só se manifesta nos fiéis em pentecostes. Aí também inicia a missão evangelizadora e catequética da Igreja. No episódio narrado em Atos dos Apóstolos 2, versículos 1 a 4, o Espirito Santo é derramado sobre os discípulos de Jesus, por extensão à Igreja, confirmando as profecias de Ezequiel (Ez 36,27) e Joel (Jl 3,1). A partir daí o cristianismo, guiado pelo Espirito Santo, cresceu em número e em graça, difundindo-se pela pregação dos Apóstolos e seus enviados por todo o mundo.
  Assim até hoje a igreja em seu múnus apostólico difunde a doutrina da salvação por todo o mundo, daí sua catolicidade, ou seja, universalidade. Isso só se torna possível com a assistência, com a inspiração, a direção, o agir do Espirito Santo. Sem ele, qualquer palavra ou ação, por bonita e envolvente que fosse não surtiria o efeito desejado, pois seria atitude meramente humana que tocaria somente a superficialidade da alma, o emocional. Contudo, na ação do Espirito todo testemunho alcança o âmago, as profundezas do espírito humano, provocando as transformações que levam à conversão, à metanóia, ao caminho da salvação, à ascese, enfim, à santificação.
Quem afinal é essa pessoa com atributos tão notáveis? É Deus. Simples assim. Teologicamente podemos dizer que é a terceira pessoa da Trindade. Terceira não significa ordem de importância, hierarquia; as Pessoas Divinas são iguais em tudo, pois são um único Deus. Primeira, segunda e terceira representam a ordem em que foram reveladas: Pai (o Criador), Filho (Jesus) e Espirito Santo. Podemos dizer que o Pai é Deus por nós (YAHWE – Aquele que É), o Filho é Deus conosco (Emanuel) o Espirito Santo é Deus em nós (nos foi infundido no batismo sacramental, tornando-nos sua morada). Assim apresentamos o Espirito Santo na Santíssima Trindade.
No Antigo Testamento o Espirito de Deus era representado pelo termo hebraico ‘ruah’ – em latim ‘spiritus’ – que significa vento, brisa, tempestade. Esta palavra está associada a ideia de vida, portando ‘ruah’ significa força vivificante de Deus. É este Espirito que fortalece os homens, capacitando-os a ações extraordinárias (Sansão, Elias), ouvir e falar com Deus (Isaias, Jeremias, Ezequiel). O Messias prometido seria portador do ‘ruah’, portanto pleno de poderes.  No Novo Testamento Jesus explicitou o Espirito Divino, ao falar do Pai e do Espirito, que com o Filho formam o único Deus Uno e Trino. Na anunciação do anjo a Maria (Lc 1,26-38) o Espirito Santo é apresentado como força que fecunda e gera vida. Na visita de Maria a Isabel, o Espirito inspira e fortalece (Lc 1,39-45). No diálogo com Nicodemos Jesus apresenta o Espirito Santo como fator de renovação, de renascimento (Jo 3, 1-8). O Espírito Santo confere autoridade (Jo 20,22-23). O Espirito Santo é força do alto, que revigora, encoraja (At 1,8). Finalmente é quem nos move, nos concede os dons e carismas, nos anima, nos transforma em anunciadores audazes de Sua Palavra (At 2,1-13)
   O Espírito é concedido aos batizados, quando sacramentalmente recebemos o Espírito Santo no batismo e posteriormente confirmado no crisma, conferindo-nos os sete dons infusos. No “batismo no Espírito Santo” ou efusão do Espírito nos são concedidos os dons carismáticos, os quais nos levam a uma renovação espiritual tão intensa que somos realmente regenerados (o zelo pela doutrina da Igreja, o amor a Maria, a leitura orante da Bíblia, a oração e o louvor são nitidamente intensificados).
     Concluindo podemos afirmar que o Pai nos trouxe o Filho Jesus. Jesus nos dá o Espirito Santo, para que através desse mesmo Espirito Ele seja apresentado e possa nos levar ao Pai, num circulo virtuoso de amor.
(Carlos Nunes)

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