sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Olho por olho – Coração por coração


“Dói muito ser queimado vivo, dói muito. Dói no corpo, dói na alma” (vitima de facínoras no ônibus incendiado no Rio de Janeiro em 03/03/2015).


Dói na alma... Dói na alma tomar conhecimento da barbárie que assola nossa cidade, nosso pais, a terra inteira. Crimes hediondos, atentados terroristas, massacres de inocentes em guerras insanas mundo afora, tudo isso nos afronta. No Brasil a impunidade generalizada, no mundo a insolência dos fortes tripudiando sobre os fracos.
No livro dos Salmos 12(13), o salmista num lamento questiona: “Até quando Senhor, de todo vos esquecereis de mim? Até quando aninharei a angustia em minha alma, até quando se levantará o inimigo contra mim?” (vv. 2-4), para logo após exprimir confiança: “Iluminai meus olhos com vossa luz (...) antes possa meu coração regozijar-se em vosso socorro!” (vv. 5-6).
Somos passiveis de sentimentos de vingança tipo olho por olho; afinal somos seres carnais. Contudo, não podemos deixar que a carne e o sangue falem mais alto. Não é coerente indignar-se com a crueldade sendo cruéis. Somos seres carnais, no entanto também espirituais. O ser humano é constituído de corpo, alma (psique), espírito. O espírito iluminado pela fé e enlevado pela graça; a alma, a vida sensível e também a razão sem a graça, e o corpo a área material, nossa parte visível, palpável, receptáculo da graça. Se a carne clama por vingança, a alma deve sobrepujá-la e clamar por justiça. Acima de tudo, enlevado pela graça, o espírito se doa em perdão. Entenda-se, perdoar não é aceitar resignadamente o que se fez contra nós, isentando o agressor de culpa (afinal a alma clama por justiça). Ao contrário, perdoar é reconhecer que fomos feridos, que alguém nos ofendeu e mesmo assim não lhe desejar o mal. Imputando culpa sim, porém sem imprimir ódio nem desejo de vingança no coração.
Em vista de toda maldade imperante no mundo, coloquemos nossa confiança no Senhor que fez o céu e a terra e a todos ama igualmente, mereçam ou não. Dói, dói muito; mas do mesmo modo como Deus concede-nos gratuitamente a misericórdia, aprendamos também a perdoar. Talvez assim o mundo fique melhor.
Perdoar é ir além, é dar mais (per + donare = doar mais). Portanto só perdoa quem é generoso, caridoso, ama e por amor é capaz de se doar. O outro passa dos limites e nos tira algo; nós ultrapassamos nossos próprios limites e lhe damos o que ele não mereceria. Isso é perdão.    

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