“Dói muito ser queimado vivo, dói muito. Dói no corpo, dói na alma”
(vitima de facínoras no ônibus incendiado no Rio de Janeiro em 03/03/2015).
Dói na alma... Dói na alma tomar
conhecimento da barbárie que assola nossa cidade, nosso pais, a terra inteira.
Crimes hediondos, atentados terroristas, massacres de inocentes em guerras
insanas mundo afora, tudo isso nos afronta. No Brasil a impunidade
generalizada, no mundo a insolência dos fortes tripudiando sobre os fracos.
No livro dos Salmos 12(13), o
salmista num lamento questiona: “Até quando Senhor, de todo vos esquecereis de
mim? Até quando aninharei a angustia em minha alma, até quando se levantará o
inimigo contra mim?” (vv. 2-4), para logo após exprimir confiança: “Iluminai
meus olhos com vossa luz (...) antes possa meu coração regozijar-se em vosso
socorro!” (vv. 5-6).
Somos passiveis de sentimentos de
vingança tipo olho por olho; afinal somos seres carnais. Contudo, não podemos
deixar que a carne e o sangue falem mais alto. Não é coerente indignar-se com a
crueldade sendo cruéis. Somos seres carnais, no entanto também espirituais. O
ser humano é constituído de corpo, alma (psique), espírito. O espírito
iluminado pela fé e enlevado pela graça; a alma, a vida sensível e também a
razão sem a graça, e o corpo a área material, nossa parte visível, palpável,
receptáculo da graça. Se a carne clama por vingança, a alma deve sobrepujá-la e
clamar por justiça. Acima de tudo, enlevado pela graça, o espírito se doa em
perdão. Entenda-se, perdoar não é aceitar resignadamente o que se fez contra
nós, isentando o agressor de culpa (afinal a alma clama por justiça). Ao
contrário, perdoar é reconhecer que fomos feridos, que alguém nos ofendeu e
mesmo assim não lhe desejar o mal. Imputando culpa sim, porém sem imprimir ódio
nem desejo de vingança no coração.
Em vista de toda maldade
imperante no mundo, coloquemos nossa confiança no Senhor que fez o céu e a
terra e a todos ama igualmente, mereçam ou não. Dói, dói muito; mas do mesmo modo
como Deus concede-nos gratuitamente a misericórdia, aprendamos também a
perdoar. Talvez assim o mundo fique melhor.
Perdoar é ir além, é dar mais (per + donare = doar mais). Portanto só perdoa quem é generoso,
caridoso, ama e por amor é capaz de se doar. O outro passa dos limites e nos
tira algo; nós ultrapassamos nossos próprios limites e lhe damos o que ele não
mereceria. Isso é perdão.
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