“Se a
cólera que espuma, a dor que mora na alma e destrói cada ilusão que nasce, tudo
o que punge, tudo o que devora o coração, no rosto se estampasse; / Se se
pudesse o espírito que chora ver através da máscara da face, tanta gente que
talvez inveja nos causa, então piedade nos causasse! / Tanta gente que ri
talvez consigo guarda um atroz, um recôndito inimigo, como invisível chaga
cancerosa! / Quanta gente que ri talvez existe cuja única ventura consiste em
parecer aos outros venturosa!” (Mal Secreto-Raimundo Correia).
Com este soneto começo esta
reflexão. Ele nos revela com crueza, o individuo extremamente orgulhoso que
oculta, ou tenta ocultar, o mal que lhe assola e corrói sua alma. Aquele que
necessita de cura interior, mas não admite que está emocionalmente afetado.
Quantas pessoas são assim; escondem uma dor, mas de certa forma deixam
transparecer que algo há de errado em suas vidas; externam uma felicidade que
não existe, uma alegria aparente, ostentam um sorriso quase constante, como que
plasmado em seus rostos, porém são altamente irascíveis, ou vivem se gabando,
ou são propensos a momentos – muitas vezes prolongados – de profunda
melancolia.
Aí se abre a janela na qual o
ministro de cura enxerga algo de errado nesta pessoa. Mas aí também reside a
dificuldade de aproximação, pois este é dissimulado quanto a seu sofrimento
intimo. Também a irritabilidade, a mania de grandeza e mesmo a tristeza que às
vezes surge, são empecilhos. O mau humor provocado pela irritabilidade impede
uma abordagem serena a qualquer assunto. A gabação também não dá abertura;
geralmente a pessoa é tomada de soberba e não dá atenção quando se trata de
problemas de si mesmo, desvia, sai pela tangente e muda de assunto. Quanto ao
estado melancólico, surge a dissimulação; diz que não é nada, vai passar e
realmente, aparentemente logo passa, pois este é tomado de uma fingida
aparência de normalidade: o sorriso reaparece, o bom humor retorna e tudo
parece bem. Parece...
A olhos humanos essas pessoas não
têm jeito. Jamais seriam curadas. Mas para Deus nada é impossível. O grande
entrave é que na grande maioria dos casos, esses nossos irmãos não reconhecem
seu mal e não se abrem à cura divina. E sabemos que Deus não age contra nossa
vontade; portanto se muitos não são libertos de males é por que no fundo, não
querem ser curados.
Qual a solução? Perseverança. Estas
pessoas, por não reconhecerem seus traumas, suas carências, não buscam a cura
interior. Se de forma espontânea, o ministro de cura oferece oração, a resposta
mais freqüente que se ouve é: não preciso de oração! Ora, todos nós, mesmo
saudáveis, precisamos sempre de oração.
Sabemos que a missão às vezes é
árdua, mas pelo amor ao Senhor, aos irmãos e ao serviço, não desanimamos e não
desistimos desses que necessitam demais (embora não admitam) da Misericórdia
Divina. Nossa arma nesse combate é a oração pedindo o aquebrantamento dos
corações endurecidos, o toque de ternura das mãos chagadas de Jesus, a ação
suave, porém contundente do Espírito Santo; enfim a ação transformadora de Deus
nas vidas desses irmãos para que se abram a restauração.
Que o mal não seja mais secreto,
a dissimulação desapareça e os traumas se revelem para que, desejando
ardentemente a cura, Deus venha agir e livrá-los definitivamente de todo o mal.
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