Os discípulos de
Jesus de ontem e de sempre receberam de seu Senhor a tarefa de levar a Boa
Notícia a todos. Não nos é possível o acomodamento, pois precisamos chegar aos
confins da terra, e estes limites tantas vezes estão bem próximos de nós.
Evangelizar significa proporcionar a todos, no anúncio do nome de Jesus Cristo,
o reconhecimento da própria dignidade e a realização dos anseios de felicidade
e à perfeita alegria, mesmo sabendo que a plenitude só se encontrará no Céu, no
face a face do amor eterno com a Santíssima Trindade.
Diante da falta de
esperança e a escuridão de uma verdadeira noite da cultura, que muitas vezes
abate o ânimo da humanidade, com a crise de valores referenciais para os passos
a serem dados, a Igreja nos faz a proposta de caminhar no seguimento de Cristo,
o único que acende efetivamente as luzes necessárias para o nosso tempo.
Buscamos um roteiro consistente, que permita às pessoas dar passos mais
seguros!
Acreditar no bem que
está no coração das pessoas e na potencialidade que foi nelas plantada pelo
próprio Deus. Assim Jesus conduziu seus discípulos num caminho de formação, sem
levar em conta o quanto eram limitados. Pedro, Tiago e João, ao subirem com
Jesus ao Monte carregavam consigo suas inseguranças e limites. Jesus sabia da
existência de uma semente do bem no coração de seus três amigos, assim como
conhecia suas fraquezas. Dentro do coração daqueles homens e no coração de
todas as pessoas existe o melhor de tudo, que foi plantado pelo próprio Deus.
Ele não criou ninguém para a infelicidade! Jesus conduziu seus discípulos a um
alto monte, onde se transfigurou. Apontar para o alto do monte. Para frente e
para cima, esta é a direção a ser seguida, sem nivelar a existência pelo
rodapé.
O Evangelho de São
Lucas (Cf. Lc 9,28-36), acrescenta que subiram ao monte “para rezar”. É
verdade! Quem olha para frente a para o alto percebe que há outros elementos e
uma outra vontade, a de Deus, interferindo no rumo da história. Deus não nos
abandona, mas está sempre presente, conduzindo os acontecimentos, sem violar
nossa liberdade. Só ele é capaz de agir assim! Rezar significa abrir espaço
para a intervenção de Deus.
Os erros existem, o
pecado ronda em torno de nós de forma devoradora e destrutiva. Nossa tarefa é
identificar o que existe de negativo, dar a nossa contribuição para aperfeiçoar
as pessoas, as estruturas e a sociedade, propor soluções concretas para os
problemas, sem acomodamento nem denuncismo destruidor, cujo fruto é somente o
mal estar corrente em nossos dias, como se a raiva e a revolta conseguissem
resolver os impasses.
Os três amigos de
Jesus contaram com testemunhas de alto valor: Moisés e Elias – Lei e Profetas,
a nuvem luminosa do Espírito que os envolveu e a voz do Pai. Em nossa aventura
cotidiana, além da voz de Deus, é frequente contar com a ajuda das pessoas que
convivem conosco. Apurar o que as outras pessoas fazem, como respondem aos
problemas, ouvir o testemunho de gente envolvida, não desprezar o caminho feito
por muitos que já apanharam muito para enfrentar dificuldades semelhantes,
valorizando o fato de que temos na Igreja uma miríade de testemunhas,
especialmente os santos e santas, que lutaram e se dedicaram, cada um em seu
tempo e seu contexto de vida, para ajudar o mundo a ser melhor. Basta recordar
o próprio Pedro: “Esta voz, nós a ouvimos, vinda do céu, quando estávamos com
ele na montanha santa. E assim se tornou ainda mais firme para nós a palavra da
profecia, que fazeis bem em ter diante dos olhos, como uma lâmpada que brilha
em lugar escuro, até clarear o dia e levantar-se a estrela da manhã em vossos
corações” (2 Pd 1,18-19).
Após a
magnífica experiência do Tabor, os discípulos voltaram para a planície do dia a
dia surrado, marcado pelo contato com todos os problemas. Ainda por cima,
tinham que ficar calados, até a ressurreição de Jesus! (Cf. Mt 17,9). Na maior
parte das vezes, trata-se de acender as luzes em silêncio, iluminando a vida
das pessoas com o exemplo, outras vezes é o serviço da consolação, feito de
escuta e de palavras encorajadoras, para mostrar-lhes o bem existente em seu
interior. Vale ainda o esforço para recolher os fragmentos do bem, existentes
no meio de tanta maldade. Tudo isso há de ser vivido com o sereno otimismo da
fé, com o qual nos firmamos na terra, mas o olhar voltado para e eternidade,
aquela que, em Cristo, já está presente em nossa história.
Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém do Pará
Assessor Eclesiástico da RCCBRASIL
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