Sem
dúvida, o Concílio Vaticano II foi o grande feito de João XXIII;
como disse João Paulo II, foi a “Primavera da Igreja”. Vale a
pena ler o que João XXIII mesmo disse sobre a convocação do
Concílio; que foi uma surpresa imensa para toda a Igreja.
É
preciso entender que nos 21 séculos, a Igreja só realizou 21
Concílios universais, onde o Papa convoca todos os bispos do mundo.
É uma apoteose. No Vaticano II eram 2600. Hoje seriam mais de 4000,
sem contar os Eméritos.
Na
década de 60 o mundo já estava cada vez mais comprometido com o
progresso material, abandonando as realidades eternas. Então, a
decisão de convocar o Concílio Vaticano II, anunciado em 25/1/1959
(conversão de São Paulo), foi para enfrentar isso.
Nesta
data João XXIII, estava na Basílica de São Paulo Fora dos Muros,
onde foi martirizado o apóstolo São Paulo. Junto com ele estavam
diversos cardeais. Ali ele anunciou sua inspiração. Não nomeou
nenhuma comissão para estudar previamente o assunto, não consultou
nenhum especialista e não fez perguntas a ninguém. Naquele mesmo
local anunciou aos cardeais o seu firme propósito de convocar o
Concílio Vaticano II. Mais tarde João XXIII referiu-se várias
vezes a este fato:
“A
ideia do Concílio não amadureceu como fruto de prolongada
consideração, mas como o florir espontâneo de uma inesperada
primavera” (Alocução 9/8/59).
“Consideramos
inspiração do Altíssimo a ideia de convocar um Concílio
Ecumênico, que desde o início de nosso pontificado se apresentou à
nossa mente como o florir de uma inesperada primavera”. (Alocução,
5/6/60).
“A
ideia mal surgiu em nossa mente e logo a comunicamos com fraternal
confiança aos senhores cardeais, lá na Basílica Ostiense de São
Paulo Fora dos Muros, junto ao sepulcro do Apóstolo dos Gentios, na
festa comemorativa de sua conversão, a 25 de janeiro de 1959”.
(Alocução 20/2/62)
Ao
anunciar o Concílio, João XXIII disse aos cardeais:
“Se
o bispo de Roma estende o seu olhar sobre o mundo inteiro, de cujo
governo espiritual foi feito responsável pela divina missão que lhe
foi confiada, que espetáculo triste não contempla diante do abuso e
do comprometimento da liberdade humana que, não conhecendo os céus
abertos e recusando-se à fé em Cristo Filho de Deus, redentor do
mundo e fundador da Santa Igreja, volta-se todo em busca dos
pretensos bens da terra, sob a tentação e a atração das vantagens
da ordem material que o progresso da técnica moderna engrandece e
exalta. Todo este progresso, enquanto distrai o homem da procura
dos bens superiores, debilita as energias do espírito, com grave
prejuízo daquilo que constitui a força de resistência da Igreja e
de seus filhos aos erros, erros que, no curso da história do
Cristianismo, sempre levaram à decadência espiritual e moral e à
ruína das nações. Esta verificação desperta no coração do
humilde sacerdote que a divina providência conduziu a esta altura do
Sumo Pontificado uma resolução decidida para a evocação de
algumas formas antigas de afirmações doutrinárias e de sábias
ordenações da disciplina eclesiástica que, na história da Igreja,
em épocas de renovação, deram frutos de extraordinária eficácia
para a clareza do pensamento e para o avivamento da chama do fervor
cristão”.
No
Natal de 1961, João XXIII voltou a expor as causas da convocação
do Concílio Ecumênico:
“A
Igreja assiste hoje a grave crise da sociedade. Enquanto para a
humanidade surge uma nova era, obrigações de uma gravidade e
amplitude imensas pesam sobre a Igreja, como nas épocas mais
trágicas de sua história. A sociedade moderna se caracteriza por um
grande progresso material a que não corresponde igual progresso no
campo moral. Daí enfraquecer-se o anseio pelos valores do espírito
e crescer o impulso para a procura quase exclusiva dos gozos
terrenos, que o avanço da técnica põe, com tanta facilidade, ao
alcance de todos.
Diante
do espetáculo de um mundo que se revela em tão grave estado de
indigência espiritual, acolhendo como vinda do alto uma voz íntima
de nosso espírito, julgamos estar maduro o tempo para oferecermos à
Igreja Católica e ao mundo o dom de um novo Concílio Ecumênico. Ao
mundo perplexo, confuso e ansioso sob a contínua ameaça de novos e
assustadores conflitos, o próximo Concílio é chamado a suscitar
pensamentos e propósitos de paz, de uma paz que pode e deve vir
sobretudo das realidades espirituais e sobrenaturais da inteligência
e da consciência humana” (Bula Humanae Salutis).
Prof.
Felipe Aquino
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