Santo Agostinho
afirmou que, se Deus não soubesse tirar algo de bom do sofrimento, não
permitiria jamais que esse nos atingisse.
Há
um mistério profundo no sofrimento. Mistério de dor e angústia que Jesus, pelo
Seu sofrimento, transformou em mistério de salvação.
Muitos
homens e mulheres mudaram de vida radicalmente por causa do sofrimento. Desde
que Jesus escolheu o caminho da dor para nos salvar, o sofrimento passou a ser
a “matéria-prima” da salvação. São Paulo falava da “loucura da cruz para
aqueles que se perdem, mas poder de Deus para aqueles que se salvam” (citação
livre de 1 Cor 1,18). De fato, o poder invisível de Deus se manifesta no
sofrimento. Cura a alma, salva o espírito, quebranta o orgulho, elimina a
vaidade, abate a opulência, iguala os homens.
E
no sofrimento que os homens mais se sentem irmãos, filhos do mesmo Pai. E na
hora amarga da dor que se valorizam a fraternidade e a solidariedade. E nessa
hora sagrada que os corações se unem, as mãos se apertam e o filho lembra-se do
Pai. Não fora o sofrimento angustiante daquele filho pródigo do Evangelho,
jamais ele teria abandonado a vida devassa e voltado para a casa do Pai.
Sim,
o sofrimento é sagrado! É nele que encontramos a nós mesmos e encontramos os
outros, sem máscaras, sem enfeites e sem enganos. Ele não foi criado por Deus,
mas Cristo lhe deu um enorme sentido. A dor e a morte são obras trágicas do
homem, frutos do seu pecado, do desejo obstinado de querer construir a vida sem
Deus. São Paulo não teve dúvida: “O salário do pecado é a morte” (Rm 6,23a). E
reafirmou: “O pecado entrou no mundo e, pelo pecado, a morte; assim a morte
passou a todos os homens” (citação livre de Rm 5,12).
Mas
Cristo veio exatamente para destruir o pecado e a morte. Como reza a Igreja,
“com a Sua morte destruiu a morte, e com a Sua ressurreição devolveu-nos a
vida” (missa do Tempo Pascal). O Senhor bebeu o cálice da dor até a última
gota, para que todo o sofrimento da terra fosse resgatado, transformado e
divinizado. Qualquer que seja a dor, ela é parte da mesma dor do Senhor, pois
Ele a assumiu na Sua santa paixão. E por isso que São Paulo afirma: “Completo
na minha carne o que falta às tribulações de Cristo” (citação livre de Cl
1,24). Nosso sofrimento é o mesmo sofrimento de Cristo. Assumindo nossa
natureza, pela Sua encarnação, Ele assumiu também nosso sofrimento e fez dele o
instrumento da nossa salvação. Portanto, qualquer que seja a nossa dor,
oferecida a Deus, unida à paixão de Cristo, ela é extremamente valiosa e
salvífica. “As nossas tribulações do momento são leves e nos preparam um peso
de glória eterna” (citação livre de II Cor 4,17), nos garante São Paulo.
Santo
Afonso de Ligório, doutor da Igreja, afirmou que ”não existe coisa mais
agradável a Deus do que sofrer com paciência e paz todas as cruzes por Ele
enviadas”. E Santa Teresa D’Ávila disse que “o mérito consiste em sofrer e
amar.
É
o sofrimento que quebra em nós o ímpeto do pecado, destrói nossas más
inclinações interiores e exteriores e nos preparam para o céu.
“Os
sofrimentos da presente vida não têm proporção alguma com a glória futura que
nos deve ser manifestada” (Rm 8,18). São Francisco chegava ao extremo de dizer:
“O bem que espero é tão grande que todo sofrimento é prazer para mim.”
Jesus
nos manda: “Tome cada dia a sua cruz e siga-me” (Lc 9,23c). Se Ele assim o diz,
é porque isso é o melhor para nós. Não há que duvidarmos do Senhor. E é Ele
quem sabe qual é a cruz que devemos carregar… Não é uma livre escolha nossa.
Por isso, precisamos tomá-la e carregá-la não à força e com repugnância e
lamentação, mas com humildade, paciência e fé. Nesta vida, não teremos
verdadeira paz interior, se não abraçarmos com amor os sofrimentos,
oferecendo-os a Deus. Segundo Santo Afonso: “Essa é a condição a que estamos
reduzidos em consequência da corrupção do pecado.”
O
valor do sofrimento é tamanho, que os santos consideravam como presentes as
doenças e as dores que Deus lhes mandava. Como somos diferentes deles! São
Vicente de Paulo, por exemplo, dizia: “Se conhecêssemos o precioso tesouro
contido nas doenças, recebê-las-íamos com a alegria com que se recebem os
maiores presentes.”
O
sofrimento, acolhido com fé, produz a santidade. Portanto, não devemos
desesperar-nos perante ele, mas abraçá-lo na fé. Que Deus nos dê essa grande graça.
A Palavra de Deus nos diz: “Todas as coisas concorrera para o bem daqueles que
amam a Deus” (Rm 8,28a) e mais:
Em
todas as circunstâncias, dai graças, porque esta é a vosso respeito a vontade
de Deus em Jesus Cristo” (1 Ts 5,18). Sofrer e amar, dando graças a Deus!
Prof. Felipe Aquino
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