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Igreja não tem dúvida em afirmar que a Ressurreição de Jesus foi um evento
histórico e transcendente. S. Paulo escrevia aos Coríntios pelo ano de 56: “Eu
vos transmiti… o que eu mesmo recebi: Cristo morreu por nossos pecados, segundo
as Escrituras. Foi sepultado, ressuscitado ao terceiro dia, segundo as
Escrituras. Apareceu a Cefas, e depois aos Doze” (1Cor 15,3-4). O apóstolo fala
aqui da viva tradição da Ressurreição, que ficou conhecendo.
O primeiro acontecimento da manhã do Domingo de Páscoa foi a descoberta do
sepulcro vazio (cf. Mc 16, 1-8). Ele foi a base de toda a ação e pregação dos
Apóstolos e foi muito bem registrada por eles. São João afirma: “O que vimos,
ouvimos e as nossas mãos apalparam isto atestamos” (1 Jo 1,1-2). Jesus
ressuscitado apareceu a Madalena (Jo 20, 19-23); aos discípulos de Emaús (Lc
24,13-25), aos Apóstolos no Cenáculo, com Tomé ausente (Jo 20,19-23); e depois,
com Tomé presente (Jo 20,24-29); no Lago de Genezaré (Jo 21,1-24); no Monte na
Galiléia (Mt 28,16-20); segundo S. Paulo “apareceu a mais de 500 pessoas” (1
Cor 15,6) e a Tiago (1 Cor 15,7).
Toda a pregação dos Discípulos estava centrada na Ressurreição de Jesus. Diante
do Sinédrio Pedro dá testemunho da Ressurreição de Jesus (At 4,8-12). Em At
5,30-32 repete. Na casa do centurião romano Cornélio (At 10,34-43), Pedro faz
uma síntese do plano de Deus, apresentando a morte e a ressurreição de Jesus
como ponto central. S. Paulo em Antioquia da Pisídia faz o mesmo (At 13,17-41).
A primeira experiência dos Apóstolos com Jesus ressuscitado, foi marcante e
inesquecível: “Jesus se apresentou no meio dos Apóstolos e disse: “A paz esteja
convosco!” Tomados de espanto e temor, imaginavam ver um espírito. Mas ele
disse: “Por que estais perturbados e por que surgem tais dúvidas em vossos
corações? Vede minhas mãos e meus pés: sou eu! “Apalpai-me e entendei que um
espírito não tem carne nem ossos, como estais vendo que eu tenho”. Dizendo
isto, mostrou-lhes as mãos e os pés. E, como, por causa da alegria, não podiam
acreditar ainda e permaneciam surpresos, disse-lhes: “Tendes o que comer?”
Apresentaram-lhe um pedaço de peixe assado. Tomou-o então e comeu-o diante
deles”. (Lc 24, 34ss)
Os Apóstolos não acreditavam a principio na Ressurreição do Mestre.
Amedrontados, julgavam ver um fantasma, Jesus pede que o apalpem e verifiquem
que tem carne e ossos. Nada disto foi uma alucinação, nem miragem, nem delírio,
nem mentira, e nem fraude dos Apóstolos, pessoas muito realistas que duvidaram
a principio da Ressurreição do Mestre. A custo se convenceram. O próprio Cristo
teve que falar a Tomé: “Apalpai e vede: os fantasmas não têm carne e osso como
me vedes possuir” (Lc 24,39). Os discípulos de Emaús estavam decepcionados
porque “nós esperávamos que fosse Ele quem restaurasse Israel” (Lc 24, 21).
Com os Apóstolos aconteceu o processo exatamente inverso do que se dá com os
visionários. Estes, no começo, ficam muito convencidos e são entusiastas, e
pouco a pouco começam a duvidar da visão. Já com os discípulos de Jesus, ao
contrário, no princípio duvidam. Não crêem em seguida na Ressurreição. Tomé
duvida de tudo e de todos e quer tocar o corpo de Cristo ressuscitado. Assim
eram aqueles homens: simples, concretos, realistas. A maioria era pescador, não
eram nem visionários nem místicos. Um grupo de pessoas abatidas, aterrorizadas
após a morte de Jesus. Nunca chegariam por eles mesmos a um auto-convencimento
da Ressurreição de Jesus. Na verdade, renderam-se a uma experiência concreta e
inequívoca. Impressiona também o fato de que os Evangelhos narram que as
primeiras pessoas que viram Cristo ressuscitado são as mulheres que correram ao
sepulcro. Isto é uma mostra clara da historicidade da Ressurreição de Jesus;
pois as mulheres, na sociedade judaica da época, eram consideradas testemunhas
sem credibilidade já que não podiam apresentar-se ante um tribunal. Ora, se os
Apóstolos, como afirmam alguns, queriam inventar uma nova religião, por que,
então, teriam escolhido testemunhas tão pouco confiáveis pelos judeus? Se os evangelistas
estivessem preocupados em “provar” ao mundo a Ressurreição de Jesus, jamais
teriam colocado mulheres como testemunhas.
Os chefes dos judeus tomaram consciência do significado da Ressurreição de
Jesus, e, por isso, resolveram apaga-la: deram aos soldados uma vultosa quantia
de dinheiro para negá-la (Mt 28, 12-15). A ressurreição corporal de Jesus era
professada tranqüilamente pela Igreja nascente, sem que os judeus ou outros
adversários a pudessem apontar como fraude ou alucinação.
Eles não tinham disposições psicológicas para “inventar” a notícia da
ressurreição de Jesus ou para forjar tal evento. Eles ainda estavam impregnados
das concepções de um messianismo nacionalista e político, e caíram quando viram
o Mestre preso e aparentemente fracassado; fugiram para não ser presos eles
mesmos (Cf. Mt 26, 31s); Pedro renegou o Senhor (cf. Mt 26, 33-35). O conceito
de um Deus morto e ressuscitado na carne humana era totalmente alheio à
mentalidade dos judeus.
E a pregação dos Apóstolos era severamente controlada pelos judeus, de tal modo
que qualquer mentira deles seria imediatamente denunciada pelos membros do
Sinédrio (tribunal dos judeus). Se a ressurreição de Jesus, pregada pelos
Apóstolos não fosse real, se fosse fraude, os judeus a teriam desmentido, mas
eles nunca puderam fazer isto.
Jesus morreu de verdade, inclusive com o lado perfurado pela lança do soldado.
É ridícula a teoria de que Jesus estivesse apenas adormecido na Cruz. Os vinte
longos séculos do Cristianismo, repletos de êxito e de glória, foram baseados
na verdade da Ressurreição de Jesus. Afirmar que o Cristianismo nasceu e
cresceu em cima de uma mentira e fraude seria supor um milagre ainda maior do
que a própria Ressurreição do Senhor.
Será que em nome de uma fantasia, de um mito, de uma miragem, milhares de fiéis
enfrentariam a morte diante da perseguição romana? É claro que não. Será que em
nome de um mito, multidões iriam para o deserto para viver uma vida de
penitência e oração? Será que em nome de um mito, durante já dois mil anos,
multidões de homens e mulheres abdicaram de construir família para servir ao
Senhor ressuscitado? Será que uma alucinação poderia transformar o mundo? Será
que uma fantasia poderia fazer esta Igreja sobreviver por 2000 anos, vencendo
todas as perseguições (Império Romano, heresias, nazismo, comunismo,
racionalismo, positivismo, iluminismo, ateísmo, etc.)? Será que uma alucinação
poderia ser a base da religião que hoje tem mais adeptos no mundo (2 bilhões de
cristãos)? Será que uma alucinação poderia ter salvado e construído a
civilização ocidental depois da queda de Roma? Isto mostra que o testemunho dos
Apóstolos sobre a Ressurreição de Jesus era convincente e arrastava, como hoje.
Na verdade, a grandeza do Cristianismo requer uma base mais sólida do que a
fraude ou a debilidade mental. É muito mais lógico crer na Ressurreição de
Jesus do que explicar a potência do Cristianismo por uma fantasia de gente
desonesta ou alucinada. Como pode uma fantasia atravessar dois mil anos de
história, com 266 Papas, 21 Concilios Ecumênicos, e hoje com cerca de 4 mil
bispos e 416 mil sacerdotes? E não se trata de gente ignorante ou alienada;
muito ao contrário, são universitários, mestres, doutores.
Prof. Felipe Aquino
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