sábado, 25 de fevereiro de 2012

Fraternidade e saúde publica


Que a saúde se difunda sobre a terra (cf. Eclo 38,8).

 Vivemos na quaresma tempo de deserto, tempo de escuta. Tempo de nos colocarmos a disposição do Senhor para que Ele faça sua obra em nós. Na quaresma a Igreja do Brasil organiza e celebra a Campanha da Fraternidade. Este ano – 2012 – o tema é Fraternidade e Saúde Publica.

Saúde não é apenas ausência de enfermidades; saúde é bem estar pleno: físico, mental, emocional.   A saúde é imprescindível e direito de todos. Mas quando se refere à saúde publica sabemos que a maioria não usufrui esse direito. A assistência a saúde no Brasil (leia-se SUS) é precaríssima. A omissão, a negligência, a indolência são progressivas; vão desde o atendente nos postos de saúde até as altas autoridades. As autoridades em muitos casos fazem vistas grossas, pois suas prioridades são outras; os médicos na grande maioria são mal remunerados, mal formados, e não me refiro a formação estritamente profissional, mas sim a formação humana; os atendentes omissos e preguiçosos, porque se miram nos superiores. Assim nossa saúde vai de mal a pior. Alguém é capaz de refutar isso?

Os que podem – e no grosso da população são poucos – utilizam-se dos planos de saúde particulares. Planos esses que a meu ver são co-responsáveis pelos problemas na assistência médica no Brasil. Quanto mais os planos de saúde crescem e se difundem, mais problemática se torna a saúde publica. Imaginemos que a Saúde Publica no Brasil se tornasse paradigma de eficiência e qualidade para outras nações; os planos de saúde privados sucumbiriam.

Nesta quaresma que nossas autoridades se rendam ao amor fraterno, deixem Deus ser Deus e agir em suas vidas. Reconheçam as carências do nosso povo sofrido: educação, saúde, segurança. Primem e zelem pelo retorno coerente de nossos impostos, investindo mais nestes itens e não cortando verbas para a saúde! (O maior corte no orçamento da União em 2012 foi no Min. da Saúde: 5,4 bilhões).

Só nos resta dobrar os joelhos e pedir a Deus que se compadeça de nós, não deixando as moléstias do corpo nos atingirem. As da alma, sabemos, ele cuida e cuida muito bem.  

  




domingo, 19 de fevereiro de 2012

A prosperidade


Numa visão antiga, que vem sendo muito retomada nos últimos tempos, é a ideia de que Deus recompensa os bons e castiga os maus nesta vida. O que está claro é que a vida humana vive de altos e baixos, de alegrias e sofrimentos, o que constitui um mistério.

Pensando bem, não há explicação para o sofrimento. Jó nos mostra que Deus está presente onde o ser humano sofre. Nos evangelhos entendemos que Jesus cura quem sofre, mostra que Deus conhece o sofrimento do humano por dentro e o assume até o fim.

Falar de prosperidade é ater-se a uma vida sem sofrimento, de mirar para alvo que só ocasiona gozo e alegria. Esta pode ser uma visão cristã da vida, isto é, prosperidade significando intimidade com Deus, realizando o maior de todos os mandamentos, o amor.

É contra os princípios do evangelho ancorar-se na artimanha da prosperidade, para ferir a liberdade das pessoas, extorquindo delas bens materiais. Pior ainda quando isto é feito em nome de Deus. Isto passa a causar a queda de quem é "fraco na fé".
O anúncio da Palavra de Deus pode estar cheio de ambiguidades, carregado de atitudes escusas. Ela pode ser instrumentalizada para atender aquilo que não favorece o bem comum. Deixa de ser uma Palavra de gratuidade e de transformação.

A Palavra de Deus é fonte de prosperidade espiritual. Ela aciona os corações e as mentes para a liberdade e abertura ao verdadeiro bem. Não pode ser "privatizada" para bens materiais e enriquecimento ilícito, explorando a sensibilidade das pessoas.
Não podemos ver nas doenças e sofrimentos um castigo. Aí acontece a manifestação do mistério divino. Sabemos que muitos sofrimentos são provocados por imprudências, vícios e atitudes irresponsáveis. Normalmente, o egoísmo aumenta o sofrimento.

É violência enganar as pessoas com falsas promessas de prosperidade, que até causam nos sofredores um sentimento de culpa. Muitos se perguntam: que fiz de errado? Por que mereci isto? O importante é dar sinais do amor de Deus, que é nosso Pai.
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Dom Paulo Mendes Peixoto - Bispo de São José do Rio Preto (SP)







domingo, 12 de fevereiro de 2012

Não tenho tempo!



O Eclesiastes é um interessante livro bíblico, do Antigo Testamento. Seu nome vem do grego e significa: o homem da assembléia; aquele que toma a palavra na sinagoga. Escrito em hebraico pelo ano 250 a.C, esse livro comprova a influência da cultura grega na Judéia. Um tema atravessa, de modo especial, todos os seus capítulos: a precariedade das ocupações humanas. Tudo é "vaidade", ou seja, tudo é neblina, fumaça e ilusão. Pessimista? Diria que não. Seu autor, um sábio ancião, quer instruir os jovens a viver com realismo e seriedade. É o que se conclui, por exemplo, com suas observações sobre o desenrolar do tempo: "Tudo tem seu tempo, há um momento oportuno para cada empreendimento debaixo do céu. Tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de colher a planta (...); tempo de chorar e tempo de rir" (Ecl 3, 1-2.4). A partir de suas observações, faço as minhas.

Um dia, quando se escrever um livro sobre o nosso século, talvez se escolha como título: "A época dos homens sem tempo". Afinal, nenhuma justificativa é tão usada como a da falta de tempo. Ninguém tem tempo. Nem os adultos (no telefone, depois de não ter ido à reunião: "Pois é, infelizmente não tive tempo..."), nem os jovens (ao professor na Faculdade: "Por que ainda não entreguei o trabalho? Tempo, falta de tempo!..." ) e até as crianças (à mãe, que pede ao filho para fazer um serviço: "Ah! Mãe, logo agora que não tenho tempo?").

Alguns não se dedicam a clubes de serviço porque não têm tempo. Outros não visitam seus parentes porque "não se tem mais tempo para nada". Aquele jovem não estuda, este não trabalha e você nada lê porque lhes falta tempo. "Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas, como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos", é a irônica observação da Raposa ao Pequeno Príncipe.

A conclusão a que se chega - conclusão óbvia, clara, cristalina - é que há alguma coisa errada. Essa evidência se acentua quando se ouve a desculpa daqueles que cortaram, aos poucos, todo relacionamento com Deus, por um motivo muito simples: não têm tempo! "Gostaria de ir à missa, mas não tenho tempo. Desejaria ler o Evangelho, pensar nos outros, rezar, ser voluntário em algum hospital mas, infelizmente não tenho tempo". Se o ser humano não tem mais tempo para cultivar sua amizade com o Pai ou para ir em direção a seus irmãos, alguma coisa está mesmo errada. Demos, pois, uma de pesquisador: procuremos o culpado por essa situação insustentável.
Seria Deus? Afinal, foi Ele que deu o tempo ao ser humano. Mas, talvez lhe tenha dado pouco tempo: afinal, há tanto que fazer!... Contudo, convenhamos: seria um absurdo pensar assim. Ele certamente dá aos homens e mulheres o tempo suficiente para que possam fazer o que Ele quer. Mais: Ele só espera de cada pessoa o que ela tem condições de fazer.

O problema da falta de tempo teria como causa o próprio ser humano? (De você, por exemplo?). Afinal, quem consegue realizar tudo o que gostaria? Dada à nossa insatisfação contínua, por mais que alguém aja, fale ou pense, sempre falta pensar, falar ou fazer alguma coisa. Novos horizontes se abrem diante de cada caminho percorrido. O que fazer, então? ("Fazer mais alguma coisa ainda? Mas eu já disse que não tenho tempo!..."). Abra o Evangelho. Ouça o que Cristo tem a dizer sobre isso: "Marta, Marta, tu te preocupas com muitas coisas. E, contudo, uma só é necessária". O que seria o essencial na vida, o único necessário? Deve se tratar, sem dúvida, de uma realidade que permaneça sempre, que não passe com o tempo, que continue a existir mesmo após a morte - que é, para cada um, o fim do tempo.

Um dia, um doutor da lei perguntou a Jesus o que era mais importante - isto é, o que é que era essencial e resumia sua doutrina. A resposta do Mestre foi simples: o amor. O amor ao Pai e o amor aos irmãos. O resto, isto é, o que cada um vai fazer, pensar ou dizer, será uma consequência de seu amor. Ora, se alguém não tem tempo nem para se doar, que pobreza! Talvez seria melhor não ter recebido tempo algum!...
Dom Murilo S.R. Krieger, scj
Arcebispo de São Salvador da Bahia - BA

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

O aborto destrói as pessoas






   Abortos crescem junto com as leis que o liberalizam

 
ROMA, (06/02/2012 - ZENIT.org) - Em 19 de janeiro, foi publicado no site da revista médica Lancet um artigo com os números do aborto no mundo entre 1995 e 2008. Os autores do texto declaram: "As leis restritivas ao aborto não estão associados a menores taxas de aborto". Não surpreende que a publicação tenha sido imediatamente adotada por vários grupos pró-aborto para apoiar a liberalização da prática em todas as nações.
    
    A base das tentativas de liberalização é o assim chamado "aborto seguro", para o qual a legalização completa seria um elemento essencial, embora não exaustivo. Trata-se de esforços para convencer os governos, particularmente os da América do Sul, de que uma possível descriminalização do aborto só poderia resultar em progresso, porque impediria as complicações dos aborto clandestinos sem elevar o número de abortos realizados.
   
     Mas podemos perguntar se essa leitura é respeitosa da realidade ou apenas uma representação conveniente para uma perspectiva muito ideológica.
   
     Um elemento de reflexão vem da constatação de quem são os autores: membros do Instituto Guttmacher, que é uma formidável máquina de propaganda do aborto, historicamente ligada à maior rede de clínicas de aborto dos Estados Unidos, a Planned Parenthood. O Instituto Guttmacher faz parte do lobby pró-aborto, que pede das instituições internacionais o reconhecimento da interrupção voluntária da gravidez como parte dos chamados "direitos reprodutivos".
   
     Os autores afirmam que processaram os dados de seu estudo a partir de uma variedade de fontes: outros estudos publicados, relatórios ocasionais, pareceres de peritos. Como uma tal miscelânea possa ter embasado as estimativas referidas no artigo é um mistério obscuro, que dista muito da transparência de métodos que deveria permitir a verificabilidade e a reprodutibilidade do método científico de Galileu. Já de outra coisa temos mais conhecimento: do enorme grau de variabilidade e de incerteza que sustenta todos os métodos usados para estimar os abortos clandestinos.
   
     Basta comparar as estimativas do número de abortos antes da legalização em alguns países ocidentais.
   
Para a Itália, Grandolfo fornece o número de 350.000 abortos antes da legalização, enquanto Figà Talamanca dá estimativas que, com base em vários modelos matemáticos, vão de 220.000 até 3.640.000, enquanto o professor Colombo apresenta como dado mais provável o de 100.000 abortos por ano.
   
     Na França, a agência nacional de estatística, Ined, avalia que, antes da lei do aborto, o número era de 250.000. Já Thierry Lefevre fala de 55.000 a 90.000. Na Inglaterra, citavam-se 100.000 abortos antes da abortion act de 1967, ao passo que outras publicações científicas estimavam o número entre 15.000 e 31.000
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    Não pode ser subestimado, ainda, o testemunho direto do norte-americano Dr. Nathanson, fundador da NARAL (Associação Nacional para a Revogação das Leis de Aborto), convertido à causa pró-vida e ao catolicismo. Ele comprova que houve um exagero proposital na quantidade alegada de abortos nos Estados Unidos, como técnica para criar a impressão de que o aborto era muito difundido no país e precisava ser legalizado.
   
    Resta uma consideração a ser feita sobre o uso de dados brutos a respeito de fatores paralelos, que podem modificar os próprios dados sobre o aborto em si. O mundo "pró-escolha" (favorável ao aborto) utiliza, por exemplo, todos os possíveis co-fatores a fim de tentar diminuir a probabilidade de que os problemas psicológicos nas mulheres que fizeram abortos se devam ao próprio fato de terem abortado.
   
     Eles argumentam que a causa de tais problemas não é o aborto em si, mas toda uma série de fatores que predispõem as mulheres com problemas de saúde mental a abortarem com mais probabilidade. É de se perguntar por que os especialistas que publicaram o estudo na Lancet não corrigiram os dados sobre o aborto com base nos vários fatores que influenciam o recurso a essa prática: renda, religião, raça, fertilidade, escolaridade, para citar apenas alguns.
   
     De uma coisa podemos estar certos: legalizar o aborto é aceitar que o número de abortos vai aumentar. Isto não é uma tese, mas um fato demonstrado na Itália, na Romênia, nos Estados Unidos, no Peru. E mostra claramente que lutar por leis restritivas significa lutar pela vida.

***  Renzo Puccetti, professor na Faculdade de Bioética do Ateneu Regina Apostolorum









sábado, 4 de fevereiro de 2012

Somos filhos amados de Deus


Quem somos, de onde viemos, para onde vamos? É comum ouvirmos estas perguntas. A questão existencial frequenta nosso dia a dia. Alguns mergulham fundo e  elucubram teorias mirabolantes, extravagantes, exotéricas, fantasiosas e que tais. Ninguém prova nada. Nem nós cristãos; aliás, não carece provarmos, temos fé e isso basta.   Somos criaturas plenas nascidas da vontade perfeita de Deus, portanto viemos Dele e a Ele voltaremos. Como Ele – sendo imagem e semelhança – também podemos dizer sermos uma trindade indivisível. Somos trinos (pneumopsicosomáticos); criaturas espirituais (pneumo), ao mesmo tempo alma inteligente (psico) e corpo físico (soma). Nossa matéria, morada temporária da alma irá se desfazer, mas como cremos, será recomposta, desta feita num corpo incorruptível para a glória ou – infelizmente para alguns – para a condenação eterna.

Somos de Deus, viemos de Deus e voltaremos a Deus. Deus Pai, Criador, Senhor de todas as coisas invisíveis e visíveis, tudo criou, tudo fez. Criou o universo para servir de suporte a nosso belíssimo planeta. Criou a Terra para nosso habitáculo. Criou mares, rios, florestas, vales profundos, planícies verdejantes, aves do céu, feras do campo, animais de todo tipo nos ares, nas águas, no chão da terra.  Por fim, para que tudo nos fosse sujeito, nós. Deus Amor com amor, por amor e no amor criou-nos à sua imagem e semelhança. Nosso corpo, conseqüência natural da união física de nossos pais; nossa alma imortal, criada por Deus no momento da concepção carnal. Eis quem somos e de quem viemos.

Para onde vamos? Viemos do coração do Pai Divino e para lá voltaremos, é nossa vocação natural, como disse Santo Agostinho: “Tu nos fizeste para Ti e nosso coração não ficará satisfeito enquanto não repousar em Ti”.  Existimos e vivemos no tempo, mas nossa meta é a eternidade. O tempo passa e cada vez ficamos mais próximos do limiar, fora do tempo onde só existe o sempre e onde o tempo não passa: a eternidade.

Queremos Deus, assim como ele nos quer mais ainda; para tanto vivamos já aqui na Sua presença, fazendo de nós templos vivos, morada do Espírito Santo, sob o senhorio do Verbo Divino, Jesus, e quando o portal da eternidade se   abrir, estaremos diante do Pai, vendo-o tal como Ele É, e julgados dignos   aí permaneçamos para sempre. Como a lua reflete a luz do sol, nossa face resplandeça a luz intensa do Sol Nascente da Justiça, Jesus que pelo seu Santo Espírito nos leva ao Pai. Assim seja!