Desde tempos imemoriais a humanidade tem buscado
o transcendental, contato com a divindade, o sobrenatural. “Tomaram o fogo, ou
o vento, ou a esfera estrelada, ou a água impetuosa, ou os astros do céu por
deuses, regentes do mundo. Se tomaram essas coisas por deuses, encantados por
sua beleza, saibam quanto seu Senhor prevalece sobre elas, porque é o criador
da beleza quem fez todas essas coisas. Se o que os impressionou é a sua força e
o seu poder, que eles compreendam por meio delas que seu criador é mais forte;
pois é a partir da beleza e da grandeza das criaturas que por analogia se
conhece o seu autor” (cf. Sb 13,2-5).
Era dessa forma que buscavam Deus. Alguns verdadeiramente o encontraram
e foram eleitos seu povo. Outros continuaram a adorar a criação ao invés do
criador e pior, caindo na obscuridade, fizeram a si mesmo deuses.
Ainda hoje é assim. As seitas exotéricas louvam a
natureza, a “mãe terra”, as forças cósmicas, as divindades ecológicas. “São
insensatos por natureza todos os que desconheceram a Deus e através dos bens
visíveis, não souberam conhecer aquele
que é, nem reconhecer o artista, considerando suas obras” (Sb 13,1). Mas,
desejando que assim seja, queremos crer que muitos desses busquem realmente o
deus verdadeiro, ou seja, o único Deus; como citado a seguir: “Contudo, estes
só incorrem numa ligeira censura, porque talvez eles caíram no erro procurando
Deus e querendo encontrá-lo: vivendo entre suas obras, eles as observam com
cuidado, e porque eles as considerem belas, deixam-se seduzir pelo seu aspecto.
Ainda uma vez, entretanto, eles não são desculpáveis, porque se possuíram luz
suficiente para poder perscrutar a ordem do mundo, como não encontraram eles
mais facilmente aquele que é seu
Senhor?” (Sb 13,6-7).
E os que se fizeram deuses? Aqueles que se auto
idolatram? Pode parecer exagero, mas não é; a egolatria é muito comum hoje em
dia. Pessoas que se julgam autossuficientes, que prescindem de Deus e de todos:
eu sou o mais inteligente, o mais sábio, o mais forte, o mais bonito, o mais
isso e aquilo, etc, etc, etc... Até o dia em que suas supostas inteligência e
sabedoria o levarem a desgraça, sua força e beleza sucumbirem diante de uma
enfermidade. Da mesma forma que estes, arrogantemente e com indisfarçável
sarcasmo, questionam um temente a Deus que sofre tribulações com a indefectível
pergunta: “Onde está seu Deus?” poderia se perguntar: “e agora, cadê você?” O
que eles por certo não percebem é que a diferença entre as duas situações é
abissal. Onde está seu Deus? – Apesar de tudo que passei, meu Deus está a meu
lado, me amparando, me confortando, me fortalecendo. Eis nossa resposta. E você
onde está? Com certeza absoluta, longe de Deus, está num sofrimento atroz,
revoltado contra tudo e contra todos, amaldiçoando o Deus que você diz que não
existe. Mas para estes há um consolo, o Deus em que cremos não é só meu Deus, é
nosso Deus, Deus de todos! Portanto, se eles se quebrantarem, reconhecerem sua
fraqueza e interdependência, por certo nosso Deus há de também restituir-lhes a
dignidade e saúde plena.
“Virão dias – oráculo do Senhor – em que enviarei
fome e sede sobre a terra; não uma fome de pão, nem sede de água, mas fome e
sede de ouvir a palavra do Senhor” (Am 8,11).