As imagens são lícitas, mas podem
acarretar o perigo de exageros e abusos na piedade católica. Consequentemente
as autoridades da Igreja sempre cuidaram do assunto. Deste modo, os tipos de
imagens utilizados no culto cristão nunca poderão ser inspirados unicamente
pela estética ou pela devoção popular fantasiosa.
O Papa Urbano VIII em 1629 condenou a
representação da Santíssima Trindade sob a forma de um tronco humano com três
cabeças, por se tratar de uma aberração. Em 1745, Bento XIV rejeitou a cena de
três pessoas sentadas uma ao lado da outra para representar a Trindade Santa.
Uma das principais razões dessas reprovações é que o Espírito Santo nunca
apareceu sob a forma humana.
A Igreja quer que a arte cristã, com
a finalidade de representar as Pessoas Divinas, só reproduza elementos mediante
os quais estas aparecem na História sagrada ou nas Escrituras: ao Filho será
representado como figura humana; ao Espírito Santo só convém os símbolos da
pomba (Mt 3,16) ou línguas de fogo (cf. At 2,3). Quanto ao Pai Eterno, este é
representado por um dedo ou uma mão, sinais de ação e poder citados pelo
evangelista Lucas: “Se é pelo dedo de Deus que expulso os demônios”(cf. 11,20).
Ou pelo modelo de um ancião, inspirado na profecia de Daniel 7,9, que vê o
Filho do homem adiantando-se em direção de venerável e antigo varão de
cabeleira branca, sentado sobre um trono.
De modo especial, tendo em vista a
catequese, os bispos franceses promulgaram algumas diretrizes que
devem orientar a confecção de imagens para crianças. Eis a conclusão
final:
São desejáveis:
a) As imagens que eduquem a fé, isto
é, que façam pensar nas realidades sobrenaturais e despertem autênticos
sentimentos de fé e de piedade;
b) As imagens que levem em conta as
reações da criança, e não a do adulto;
c) As imagens que sejam concebidas
dentro de certa preocupação com a estética e não sejam feudo de alguma escola
particular;
d) As imagens que não apresentem
pormenores inúteis aptos a desviar do essencial a atenção das crianças;
e) As imagens que utilizem cor e
movimentação, a fim de melhor prender a atenção e o interesse das crianças;
todavia, sem exageros.
São
desaconselhadas:
a) As imagens que tratem o Invisível
com os mesmos traços concretos das realidades visíveis; assim os anjos
configurados, sem mais, a seres humanos;
b) As imagens que sejam capazes de
impressionar e agradar, mas não suscitem sentimentos de fé e de piedade; por
exemplo, aquelas que apresentam os personagens sagrados com semblante de boneca
ou com expressionismo humano carregado demais, como são as imagens da Virgem
Santíssima em geral e as de São João Evangelista, na Última Ceia, produzidas
por certos artistas do Renascimento do século XVI;
c) As imagens que as crianças não
possam facilmente compreender, por serem demasiado abstratas.
São condenadas:
a) As imagens que transmitam falsa
noção da realidade, como por exemplo, a do Menino Jesus pregado à Cruz ou
detido no tabernáculo do altar, ou imagens muito sentimentais;
b) As imagens que contribuam, na
mente das pessoas simples, para ridicularizar algum personagem sagrado, algum
mistério da fé ou os ritos da Liturgia (Cf. La Documentation Catholique 15 de
Setembro de 1957).
Estas normas, sábias e prudentes,
devem ser observadas, já que as imagens devem servir de correta instrução ao
povo de Deus, e, portanto, devem ser confeccionadas de acordo com a mensagem
que devem transmitir. O culto de veneração relativo às imagens foi sendo aos
poucos integrado no patrimônio da vida da Igreja com o seu fundamento no
mistério da Encarnação do Filho de Deus, que viu a utilidade das representações
sensíveis para o auxílio da catequese e o estímulo da oração.
Não seria cristão recusar a arte na
medida em que ela pode ser via de acesso a Deus. Por conseguinte, a Igreja
proclama: nem o iconoclasmo nem o culto supersticioso e mágico das imagens.
Cada cristão pode pessoalmente fazer o uso das imagens que melhor corresponda
às suas devoções pessoais: uns são ajudados pelas imagens, outros as dispensam.
O importante é que as imagens sejam
usadas como um meio, não um fim. Mas ninguém deve negar a legitimidade do seu
uso moderado e teologicamente fundamentado.
Cabe aqui uma
reflexão:
A Igreja Católica é a única Igreja
que possui ligação direta com os Apóstolos; é a única que possui a sucessão
apostólica.
Cristo a incumbiu de ser responsável
pela guarda do “depósito da fé”, em especial das Sagradas Escrituras. Se a
Igreja quisesse agir contra a Palavra de Deus, adulteraria a Bíblia nas
passagens que condenam as imagens, a fim de justificar o seu uso.
O livro da Sabedoria – não
reconhecido como inspirado pelos protestantes – condena, como nenhum outro
livro do Antigo Testamento, a idolatria (cf. Sb 13-15). Não seria, então, mais
fácil para a Igreja católica, fazer como os protestantes e repudiar o citado
livro? No entanto, a Igreja não fez isso porque a Bíblia deve ser lida dentro
de seu contexto e de forma correta, pois a Igreja entendeu que todos esses
textos nunca proibiram o uso das imagens, mas apenas as imagens de ídolos.
Logo, o que a Bíblia condena é a
idolatria, a substituição de Deus por uma criatura, isto é, o uso negativo da
imagem que faz as pessoas terem uma ideia errônea sobre Deus. Se o seu uso for
positivo, aproximando as pessoas do verdadeiro Deus, então seu uso é
justificado e permitido. A imagem simplesmente ajuda a criar um clima favorável
à oração e é um meio eficaz de evangelizar, principalmente os pobres e
iletrados.
São Paulo ensina a necessidade de
recordar com especial estima os nossos precursores na fé. Eles
não desapareceram, mas a nossa fé nos dá a certeza do céu onde os que
morreram na fé estão já vitoriosos em Cristo. A Igreja respeita as imagens da
mesma forma que se respeita e venera a fotografia de um ente querido. Todos
sabemos que não é a mesma coisa contemplar a fotografia e contemplar a própria
pessoa de carne e osso. Não está a Tradição Católica contra a Bíblia. A Igreja
mantém-se fiel a autêntica interpretação cristã desde as suas origens.
Este texto está apoiado no artigo de
D.Estêvão Bettencourt, osb, publicado em sua revista Pergunte e Responderemos
(nº 270, Ano: 1983, p. 412) sob o título É lícito o uso de imagens sagradas?
Por ocasião do XII centenário do II
Concílio de Niceia (787), em 4 de dezembro de 1987, o Papa João Paulo II
escreveu o documento Duodecim Saeculum sobre a Veneração da Imagens, que também
pode ser encontrado facilmente caso deseje se aprofundar neste assunto.
Retirado do livro: Por que os católicos veneram imagens? Coleção Formação Católica. Prof. Felipe Aquino.
Editora Cléofas, 2017.