sábado, 6 de fevereiro de 2016

A responsabilidade dos pregadores


Ninguém prega em seu próprio nome, mas é enviado pela Igreja; então, o pregador precisa ser fiel à Igreja que representa.
Em suas homilias sobre os Evangelhos, São Gregório Magno (540-604), papa e doutor da Igreja, nos deixa uma profunda reflexão sobre a missão de todo pregador da Palavra de Deus. (Hom. 17,3.14: PL 76,1139-1140.1146).
Ele começa lembrando as palavras do Senhor: “A messe é grande, mas poucos os operários. Rogai, portanto, ao Senhor da messe que envie operários a seu campo. São poucos os operários para a grande messe” (Mt 9,37-38).
Sem meias palavras ele critica os maus sacerdotes do seu tempo: “Não podemos deixar de dizer isto com imensa tristeza, porque, embora haja quem escute as boas palavras, falta quem as diga. Eis que o mundo está cheio de sacerdotes. Todavia na messe de Deus é muito raro encontrar-se um operário. Recebemos, é certo, o ofício sacerdotal, mas não o pomos em prática… Que a língua não se entorpeça diante da exortação, para que, tendo recebido a condição de pregadores, nosso silêncio também não nos imobilize diante do justo juiz. Com frequência, por maldade sua, a língua dos pregadores se vê impedida. Por sua vez, por culpa dos súditos, muitas vezes acontece que seus chefes os privem da palavra da pregação. Por maldade sua, com efeito, a língua dos pregadores se vê impedida… Por sua vez, por culpa dos súditos, cala-se a voz dos pregadores”.
Neste tempo de relativismo moral, em que nem sempre os pregadores obedecem aos ensinamentos do Magistério da Igreja, muito bem definidos no Catecismo da Igreja, preferindo às vezes ensinar os “seus” conceitos, São Gregório diz:
“Porque se o silêncio do pastor às vezes o prejudica, sempre causa dano ao povo, isto é absolutamente certo. Há ainda outra coisa, irmãos caríssimos, que muito me aflige na vida dos pastores… Um cargo nos foi dado pela consagração e, na prática, damos prova de outro. Abandonamos o ministério da pregação e, reconheço-o para pesar nosso… Aqueles que nos foram confiados abandonam a Deus e nos calamos. Jazem em suas más ações e não lhes estendemos a mão da advertência. Quando, porém, conseguiremos corrigir a vida de outrem, se descuramos a nossa? Preocupados com questões terrenas, tornamo-nos tanto mais insensíveis interiormente quanto mais parecemos aplicados às coisas exteriores.”
 Estas exortações não são apenas para os padres e bispos, porque hoje há muitos pregadores leigos, e todos nós precisamos pensar nisso. A Igreja, desde o Concílio Vaticano II, confiando nos leigos abriu-lhes as portas da evangelização. Mas isso tem uma consequência séria; é preciso que nós leigos estejamos preparados para pregar ao povo segundo aquilo que nos ensina a Igreja, e não aquilo que escolhemos pregar. Só a Igreja recebeu de Cristo o carisma de ensinar sem erro e de participar de sua infalibilidade. Diz o Catecismo da Igreja que:
“Para manter a Igreja na pureza da fé transmitida pelos Apóstolos, Cristo quis conferir à sua Igreja uma participação em sua própria infalibilidade, ele que é a Verdade ” (n.889).
De modo especial, os Catequistas, que exercem uma missão tão importante na Igreja, precisam conhecer muito bem o que ela nos ensina, tudo que recebeu do Espírito Santo, desde Cristo até hoje.
Cristo continua a chamar os pregadores “de todas as horas”: “Ao sair pelas nove horas da manhã, viu outros, que estavam ociosos, e disse-lhes: Ide vós também para a minha vinha” (Mt 20, 3-4).
Na exortação “Catechesi Tradendae”, São João Paulo II disse que: “A catequese foi sempre considerada pela Igreja como uma das suas tarefas primordiais, porque Cristo ressuscitado, antes de voltar para o Pai, deu aos Apóstolos uma última ordem: fazer discípulos de todas as nações e ensinar-lhes a observar tudo aquilo que lhes tinha mandado (cf. Mt 28,19).
Disse o Papa: “Todos os catequistas deveriam poder aplicar a si próprios a misteriosa palavra de Jesus: “A minha doutrina não é minha mas d’Aquele que me enviou” (Jo. 7,16). Está enunciado nesta passagem um tema frequente no quarto Evangelho: (cf. Jo. 3,34; 8,28; 12,49 s.; 14,24; 17,8.14. 13). É isso que faz São Paulo, ao tratar de um assunto de grande importância: “Eu aprendi do Senhor isto, que por minha vez vos transmiti” (1 Cor 11,23). A Igreja também nos adverte na Apostolicam Actuositatem: “Grassando em nossa época gravíssimos erros que ameaçam inverter profundamente a religião, este Concílio [Vat II] exorta de coração todos os leigos que assumam mais conscientemente suas responsabilidades na defesa dos princípios cristãos”. (Apostolicam Actuositatem, 6)
Que frequente e assíduo contato com a Palavra de Deus transmitida pelo Magistério da Igreja, que familiaridade profunda com Cristo e com o Pai, que espírito de oração e que desprendimento de si mesmo deve ter um catequista, para poder dizer: “A minha doutrina não é minha”!
Ninguém prega em seu próprio nome, mas é enviado pela Igreja; então, o pregador precisa ser fiel à Igreja que representa. Esta é a segurança de quem prega. Assim pode “pregar com autoridade”, como Jesus, certo de que ensina o que Deus quer.
Prof. Felipe Aquino


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