domingo, 28 de dezembro de 2014

Até os insensatos quando se calam passam por sábios


Sócrates, o sábio filósofo grego, dizia que a eloquência é, muitas vezes, uma maneira de exaltar falsamente o que é pequeno e de diminuir o que é, de fato, grande. A palavra pode ser mal-usada, mascarada e empregada para a dissimulação. É por isso que os sábios sempre ensinaram que só devemos falar alguma coisa “quando as nossas palavras forem mais valiosas que o nosso silêncio”. A razão é simples: nossas palavras têm poder para construir ou para destruir. Elas podem gerar a paz, a concórdia, o conforto, o consolo, mas podem também gerar ódio, ressentimento, angústia, tristeza e muito mais. “Mesmo o estulto, quando se cala, passa por sábio, por inteligente, aquele que fecha os lábios” (Pr 17,28).
O silêncio é valioso, sobretudo quando estamos em uma situação difícil, quando é preciso mais ouvir do que falar, mais pensar do que agir, mais meditar do que correr. Tanto a palavra quanto o silêncio revelam o nosso ser, a nossa alma, aquilo que vai dentro de nós. Jesus disse que “a boca fala daquilo que está cheio o coração” (cf. Lc 6,45). Basta conversar por alguns minutos com uma pessoa que podemos conhecer o seu interior revelado em suas palavras; daí a importância de saber ouvir o outro com paciência para poder conhecer de verdade a sua alma. Sem isso, corremos o risco de rotular rapidamente a pessoa com adjetivos negativos.
Sabemos que as palavras são mais poderosas que os canhões; elas provocam revoluções, conversões e muitas outras mudanças. A Bíblia, muitas vezes, chama a nossa atenção para a força das nossas palavras. “Quem é atento à palavra encontra a felicidade” (Eclo 16,20). “O coração do sábio faz sua boca sensata, e seus lábios ricos em experiência” (Eclo 16, 23). “O homem pervertido semeia discórdias, e o difamador divide os amigos” (Eclo 16,28). “A alegria de um homem está na resposta de sua boca, que bom é uma resposta oportuna!” (Pr 15,23).
Quanta discórdia existe nas famílias e nas comunidades por causa da fofoca, das calúnias, injúrias, maledicências! É preciso aprender que quando errarmos por nossas palavras, quando elas ferirem injustamente o irmão, teremos de ter a coragem sagrada de ir até ele pedir perdão. Jesus ensina que seremos julgados por nossas palavras: “Eu vos digo: no dia do juízo os homens prestarão contas de toda palavra vã que tiverem proferido. É por tuas palavras que serás justificado ou condenado” (Mt 12, 36).
Nossas palavras devem sempre ser “boas”, isto é, sempre gerar o bem-estar, a edificação da alma, o consolo do coração; a correção necessária com caridade. Se não for assim, é melhor se calar. São Paulo tem um ensinamento preciso sobre quando e como usar a preciosidade desse dom que Deus nos deu que é a palavra: “Nenhuma palavra má saia da vossa boca, mas só a que for útil para a edificação, sempre que for possível, e benfazeja aos que ouvem” (Ef 4, 29).
Erramos muito com nossas palavras; mas por quê?
Em primeiro lugar porque somos orgulhosos, queremos logo “ter a palavra” na frente dos outros; mal entendemos o problema ou o assunto e já queremos dar “a nossa opinião”, que muitas vezes é vazia, insensata, porque imatura, irrefletida. Outras vezes, erramos porque as pronunciamos com o “sangue quente”; quando a alma está agitada. Nesta hora, a grandeza de alma está em se calar, em conter a fúria, em dominar o ego ferido e buscar a fortaleza no silêncio.
Fale com sinceridade, reaja com bom senso e sem exaltação e sem raiva e expresse sua opinião com cautela, depois que entender bem o que está em discussão. Muitas vezes, nos debates, estamos cansados de ver tanta gente falando e poucos dispostos a ouvir. Os grandes homens são aqueles que abrem a boca quando os outros já não têm mais o que dizer. Mas, para isso, é preciso muito exercício de vontade; é preciso da graça de Deus porque a nossa natureza sozinha não se contém.
Deus nos fala no silêncio, quando a agitação da alma cessou; quando a brisa suave substitui a tempestade; quando a Sua palavra cala fundo na nossa alma; porque ela é “eficaz e capaz de discernir os pensamentos de nosso coração” (cf Hb 4,12).                                                                                                                                          Prof. Felipe Aquino



quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Jesus, Nós precisamos de Ti


Jesus, acreditamos que és o filho de Deus. Acreditamos na tua encarnação no seio da Virgem Maria. Acreditamos que assumiste uma natureza humana semelhante a nossa, menos no pecado e que vieste salvar todas as pessoas, sem exceção de ninguém.
Agradecemos pelo Teu amor infinito e a partir de hoje, de modo muito especial, Jesus Cristo, declaramos do mais profundo do nosso coração: Jesus nós precisamos de Ti.

Jesus, humildemente pedimos que no Advento e no Natal que se aproxima, nos conceda a graça de uma conversão radical. Queremos conhecer o Teu caminho, a Tua verdade e a Tua vida dentro da nossa própria vida e da vida das pessoas da nossa família. Pedimos a Tua presença transformadora também nas vidas e nos lares de todos aqueles que conosco participam dessa mesma fé e nas famílias do Brasil e do mundo inteiro. Amém! 

sábado, 20 de dezembro de 2014

Deus não desiste de nenhum de Seus filhos

Deus não desiste de nenhum de Seus filhos. Aprendamos do coração do Senhor que não existem pessoas perdidas; o que existem são pessoas que precisam encontrar o caminho da vida!

“Do mesmo modo, o Pai que está nos céus não deseja que se perca nenhum desses pequeninos” (Mateus 18,14).
Quando vemos Jesus contar a parábola da ovelha que se perdeu, pensamos assim: “Puxa, mas Ele já tem noventa e nove, como Ele as deixa de lado para se preocupar e cuidar de uma só?”. Para Jesus, para o coração do Pai, “um” e “noventa e nove” têm o mesmo valor. Noventa e nove não são mais que um e um não é menos que noventa e nove. Noventa e nove ovelhas têm o mesmo valor que uma ovelha.
Não pense que a alegria de Deus é com a igreja cheia, aquela multidão que está lá; a alegria de Deus tanto vale para aquela igreja cheia como para um só coração que está precisando do Seu amor e da Sua salvação. Por isso a Palavra de Deus diz hoje a nós que para o Pai não existe filho perdido, o que existe é “filho ovelha” precisando de salvação.
Nós, muitas vezes, desistimos muito facilmente das pessoas; dizemos que elas não têm mais jeito, mas Deus não desiste de ninguém, Ele acredita que, por mais que, humanamente, pareça difícil a situação daquela pessoa, nada é impossível para o Seu amor. Você pode até escutar: “Pau que nasce torto vai morrer torto”, mas no Reino de Deus pau que está torto se endireita! Pessoas para as quais humanamente você olha e diz: “Esse não tem mais jeito!”, para Deus ele tem luz, tem solução e tem caminho de salvação!
Que o digam Paulo de Tarso, Francisco de Assis e Inácio de Loyola, que o digam todos os convertidos e convertidas ao longo da história; que o digam eu e você. Tem jeito para mim e para você, tem jeito para aquele que está perdido e nós, muitas vezes, já desistimos dele.
Não desista de ninguém! Pode ser que humanamente você não tenha mais forças para lidar com essa ou com aquela situação. Pode ser que, humanamente, você já tenha tentado de várias formas, agora é a hora de você tentar espiritualmente e dizer: “Senhor, é em Tuas mãos que eu entrego este meu filho, meu marido, essa pessoa. É em Tuas mãos, Pai, que eu o (a) coloco, porque eu já não vejo mais possibilidade, mas para o Senhor nada é impossível!”.
Se você já não tem mais meios humanos para ajudar a pessoa, busque mais, com maior intensidade, os meios espirituais, a graça espiritual. Isso pode levar muito tempo, vinte, trinta anos – que o diga Santa Mônica que nunca desistiu do seu filho, Santo Agostinho.
Desse modo Deus Pai hoje quer dizer para nós que Ele não desiste de nenhuma de Suas ovelhas, há algumas que estão bem distantes. Jesus precisa de mãos, precisa de mim e de você para buscar aquelas que estão do outro lado da margem ou da montanha.
Podemos dizer: “Talvez nem adiante [fazer isso]”, mas Deus tem Seus meios para salvá-las. Que aprendamos do coração o Senhor que não existem pessoas perdidas; o que existem são pessoas que precisam encontrar o caminho da vida!

Padre Roger Araújo - Sacerdote da Comunidade Canção Nova 

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Nossa Senhora da Magnífica Intercessão


                    “Três dias depois, celebravam-se bodas em Caná da Galiléia, e achava-se ali a mãe de Jesus. Também foram convidados Jesus e os seus discípulos. Como viesse a faltar vinho, a mãe de Jesus disse-lhe: ‘Eles já não têm vinho’. Respondeu-lhe Jesus: ‘Mulher, o que há entre nós? Minha hora ainda não chegou.’ Disse, então, sua mãe aos serventes: ‘Fazei o que ele vos disser.’ Ora, achavam-se ali seis talhas de pedra para as purificações dos judeus, que continham cada qual duas ou três medidas. Jesus ordena-lhes: ‘Enchei as talhas de água.’ Eles encheram-nas até em cima. ‘Tirai agora’ , disse-lhes Jesus, ‘e levai ao chefe dos serventes.’ E levaram. Logo que o chefe dos serventes provou da água tornada vinho, não sabendo de onde era (se bem que o soubessem os serventes, pois tinham tirado a água), chamou o noivo e disse-lhe: ‘É costume servir primeiro o vinho bom e, depois, quando os convidados já estão quase embriagados, servir o menos bom. Mas tu guardaste o vinho melhor até agora.’ Este foi o primeiro milagre de Jesus; realizou-o em Caná da Galiléia. Manifestou a sua glória, e os seus discípulos creram nele.
(João 2, 1- 11).
                     Esta passagem revela claramente uma trindade absoluta de fé, amor e misericórdia.  Nosso Senhor não recusa o pedido da Mãe, por mais simples e humilde que seja, Maria é A Mãe. E entre a intercessão e o milagre existe um mistério da fé: Mulher, o que há entre nós? O que há entre Nosso Senhor e Maria a ponto de fazer com que Deus antecipe seus planos (lembre-se disto, sempre que rezar para A Mãe).
                     O que há entre Jesus Cristo e A Mulher capaz de ser o único momento em todos os Evangelhos que Cristo muda de idéia, com um simples pedido, (lembre-se disto, sempre que rezar para A Mulher).
                     O que há entre O Rei dos reis, O Senhor dos senhores e sua Mãe que faz com que o Deus do universo se preocupe com um pedido que a princípio não era de sua conta, não o importava, não tinha nada a ver com a falta de vinho (lembre-se disto, sempre que rezar para A Rainha, A Senhora).
                     A Mãe intercede, com um pedido simples e humilde, mas de tamanha graça, algo que entra para a história do cristianismo como o primeiro milagre de Nosso Senhor, que manifestou sua glória e fez seus discípulos crerem nele, realizado por intercessão da Mulher, da Mãe. É por isto que Maria é A Mulher, A Mãe. Para manifestar os milagres e a glória de Deus, pela intercessão de Maria todos os filhos e filhas acreditem no Pai.
                     Agora vamos refletir: se por um simples pedido de uma mulher, Deus foi capaz de mudar seus planos, antecipar sua hora, se preocupar com coisas pequenas, é porque Maria é mesmo A Mulher, A Mãe. Por sua vez, a intercessão foi feita com tanta certeza da realização do milagre, que a única frase entre o pedido e a graça foi: ‘Mulher, o que há entre nós? Minha hora ainda não chegou.’ Esse o que há entre nós, deixa claro, que para atender uma intercessão da Mãe, Nosso Senhor não coloca limites, barreiras, fronteiras, obstáculos porque Maria é A Mãe, A Rainha, A Senhora de todos os filhos de Deus. O pedido da Mãe é concedido de tal forma que logo Maria já diz aos serventes, fazei tudo o que Ele vos disser, tal é a certeza que seu Filho, o realiza.
                      O que há entre Nosso Senhor e Nossa Senhora é algo majestoso, extraordinário e surpreendente que a razão humana não é capaz de discernir. Qual filho seria capaz de rejeitar o pedido da própria Mãe. Lembramos do quarto mandamento, honrar pai e mãe. Na Bíblia Sagrada, só presta-se honra a Deus e aos pais.
                     “Jesus desceu, então, com seus pais para Nazaré e era obediente a eles. Sua mãe guardava todas estas coisas no coração.” (Lucas 2, 51).
                     Não afirmamos que o Deus Filho é submisso a Nossa Senhora. Mas Cristo, em sua santidade e perfeição, honra a Deus Pai em obediência por se entregar na cruz segundo o plano de salvação do Senhor, e honra a sua Mãe, na sua magnífica intercessão

sábado, 13 de dezembro de 2014

12 Pensamentos de Santo Agostinho sobre o Amor a Deus


1 - Para quem ama a Jesus, a própria dor consola.
2 - Que maior causa pode haver na vinda do Senhor senão mostrar-nos Deus o seu amor?
3 - Que o homem, alegrando-se em ser amado por Aquele que teme, ouse amá-lo também e tema desagradar o seu amor, ainda que pudesse fazê-lo impunemente.
4 - Somente serás agradável a Deus quando Deus te for agradável.
5 - Ama aquele que habita em ti desde o batismo. Porque, habitando mais perfeitamente em ti, te fará cada dia mais perfeito.
6 - Deus precisou de apenas uma palavra para criar-nos, mas de seu sangue para redimir-nos. Se às vezes te sentes frustrado por tuas misérias, recorda quanto custaste.
7 - Amando a Deus nos tornamos divinos; amando ao mundo nos tornamos mundanos.
8 - O amado participa da característica do amante. Por isso, quando se ama o eterno, a alma participa da eternidade.
9 - Dois amores construíram duas cidades. O amor de Deus construiu Jerusalém. O amor do mundo ergueu a Babilônia.

10 -
O amor é como a mão da alma. Enquanto segura uma coisa não pode pegar outra. Por isso, quem ama o mundo não pode amar a Deus. Está com a mão ocupada.
11 - É uma lei de justiça retribuir o que se recebeu. Como Deus nos deu o que somos, devolvamos-lhe todo nosso ser.

12 - Se Deus é o bem supremo do homem, viver bem não pode consistir em outra coisa que em amá-lo com toda nossa mente e alma.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Cores Litúrgicas: Origem



As diferentes cores das vestes litúrgicas visam manifestar externamente o caráter dos mistérios celebrados, e também a consciência de uma vida cristã que progride com o desenrolar do ano litúrgico. No princípio havia uma certa preferência pelo branco. Não existiam ainda as chamadas “cores litúrgicas”. Estas cores foram fixadas em Roma no século XII. Em pouco tempo os cristãos do mundo inteiro aderiram a este costume.
Branco - Usado na Páscoa, no Natal, nas Festas do Senhor, nas Festas de Nossa Senhora e dos Santos, exceto dos mártires. Simboliza alegria, ressurreição, vitória, pureza e alegria.

Vermelho -
Lembra o fogo do Espírito Santo. Por isso é a cor de Pentecostes. Lembra também o sangue. É a cor dos mártires e da sexta-feira da Paixão.
Verde - Se usa nos domingos do Tempo Comum e nos dias da semana. Está ligado ao crescimento, à esperança.
Roxo - Usado no Advento e na Quaresma. É símbolo da penitência e da serenidade. Também pode ser usado nas missas dos defuntos e na confissão.
Preto - É sinal de tristeza e luto. Hoje é pouco usado na liturgia.

Rosa - O rosa pode ser usado no 3º domingo do Advento (Gaudete) e 4º domingo da Quaresma (Laetare).

sábado, 6 de dezembro de 2014

Solidão


Há pessoas solitárias; ao menos se julgam assim. Ninguém está só. Se cremos no Deus onipotente, Ele está em tudo e em todos. Quem se sente só não percebe a presença de Deus ou se afastou dele. Às vezes estamos realmente sós do ponto de vista humano; não temos a companhia de ninguém, amigos ou familiares, mas isso não significa solidão. Pode ser um fato pontual, passageiro, ou mesmo uma situação duradoura, cotidiana. Em qualquer caso, se temos Deus no coração, o fato de estar só é relativo. Em termos absolutos não estaremos sofrendo de solidão, pois temos a melhor companhia possível: Deus.
Irmão, irmã, se você tem Deus na sua vida, mesmo na ausência de outras pessoas você não estará só. Ao contrário, se você expulsou Deus de si, mesmo em meio a uma multidão, muitas vezes se sentirá solitário.
Quem não tem – melhor dizendo – não quer Deus, não consegue enxergar o outro, pois vive egoisticamente. Assim, se não estiver entre amigos ou conhecidos, mesmo entre outras pessoas se sentirá sozinho. A situação se agrava quando na solidão efetiva (real) do quarto; aí o pensamento flui em divagações inúteis e o tédio inexoravelmente assoma seu ser. Do tédio vem a melancolia, e daí o vazio existencial. Onde isso desemboca? Na depressão.
Em muitos casos a depressão deriva de fatores psicológicos, embora saibamos que ela pode advir também de causas neurológicas. A solidão é um desses fatores. Pessoas solitárias têm tendência a se tornarem depressivas numa probabilidade maior que outras, mesmo aquelas que estando sós não se sentem sós. É fato que pessoas que vivem na presença de Deus também são suscetíveis a sofrerem depressão (afinal há diversas causas que podem provocar a doença) mas jamais sofrerão esse mal por causas psicológicas ou espirituais.

Por fim, só tem medo da solidão quem expurgou Deus de sua vida. Reiterando, se você vive na presença de Deus, sente-se amado por Ele, vive em função desse amor repercutindo-o, mesmo só você não estará só; pessoas humanas poderão não estar presentes, mas o Pai, o Filho, o Espírito Santo estarão com você, em você. Somos seres sociais e como tal precisamos uns dos outros. Gostamos da companhia das pessoas, mas nem sempre isso é possível. Sentir solidão não é estar só, é estar vazio. Daí então, eu e Deus, você e Deus. Com Deus ninguém está só.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Padre Lemaître e o Big Bang


Poucos sabem, mas foi um padre, Georges Lemaître (1894-1966), quem propôs a teoria do Big Bang. Em 1927, baseando-se em cálculos com a então recente teoria da relatividade geral, o jesuíta belga enfrentou Einstein e a comunidade científica da época para propor seu modelo cosmológico. É lamentável, portanto, que hoje fundamentalistas combatam a teoria do Big Bang como se fosse contrária ao relato bíblico do Gênesis. Até mesmo porque a exegese católica moderna também não vê problemas de incompatibilidade entre o Big Bang e o relato bíblico.
O termo Big Bang vem do inglês e significa, ao pé da letra, “grande bum”. Foi criado pelo astrofísico Fred Hoyle, que acreditava no universo estacionário, para ridicularizar a teoria. Acabou dando-lhe o nome. O primeiro a vislumbrar teoricamente a expansão do universo foi o russo Alexandrer Friedman, mas ele morreu logo e seguida e seu trabalho era essencialmente matemático, não físico. Foi o trabalho desenvolvido independentemente pelo padre Lemaître que ganhou destaque. A teoria prevê que o universo surgiu da explosão de um átomo primordial, infinitamente pequeno, quente e denso. Os físicos acreditam que antes do Big Bang não faz sentido falar na noção de tempo e nem de espaço. Depois dele, o cronômetro começou a correr e o universo a se expandir, crescendo sempre e sempre.
Lemaître teve muita audácia para divulgar seu modelo. A comunidade científica no início do século XX acreditava num universo estacionário, ou seja, parado e sempre do mesmo tamanho. Conforme o modelo cosmológico newtoniano. O próprio Einstein acreditava nisso e diminuiu o trabalho de Lemaître dizendo que “seus cálculos estão corretos, mas seu conhecimento de física é abominável”. Entretanto em 1929, o astrofísico americano Edwin Hubble provou observacionalmente que as galáxias estavam todas se afastando umas das outras. Exatamente como o jesuíta havia previsto, por meios teóricos, apenas dois anos antes. Esta prova era contundente e o sábio físico alemão voltou atrás. Einstein e Lemaître proferiram várias palestras juntos e numa delas, de pé depois de aplaudir, Einstein disse que aquela era “a mais bela e satisfatória explicação da criação” que ele já ouvira.
Tendo sua contribuição amplamente reconhecida, Lemaître foi homenageado por muitos órgãos científicos, e também por vários cientistas de renome. Mais do que isso, em 1936 o próprio papa Pio XI o indicou para a Pontifícia Academia de Ciências. E em 1960 recebeu do papa João XXIII o título de Monsenhor.
Hoje em dia, além da confirmação das observações de Hubble do afastamento das galáxias, há muitas outras provas diretas e indiretas da expansão do universo. As mais importantes são a radiação cósmica de fundo, a quantidade de hidrogênio e hélio detectáveis hoje e o acordo entre as idades das estrelas mais velhas e a prevista para o universo pelo Big Bang, 14 bilhões de anos. Cientificamente não há mais dúvidas quanto ao modelo do Big Bang. Somente alguns detalhes ainda estão em debate, mas que de maneira alguma ameaçam a certeza da teoria, quando vista em um panorama mais amplo.
Sob vários aspectos não é compreensível que algumas pessoas possam se colocar contra a teoria do Big Bang dizendo que ela contraria o relato bíblico do Gênesis. O reconhecimento pontifício recebido pelo padre Lemaître por causa de seu trabalho não é um atestado a favor da teoria. Entretanto, de certo modo, não pode deixar de ser entendido como uma aprovação do trabalho do jesuíta. Também a exegese moderna não lê no Gênesis um relato literal da criação. Porém, não pode-se deixar levar pelas interpretações puramente materialistas. Estas, se disfarçando de científicas, tentam confundir as pessoas argumentando que não há mais lugar para Deus na criação do mundo. Pelo contrário. Para o crente, fiel ao magistério da Igreja, há sempre um lugar privilegiado para Deus. Deve-se deixar sempre bem claro que a ciência explica o “como” (a teoria do Big Bang), mas não o “porquê” (Deus, para Sua glória e por causa de Seu amor).
Alexandre Zabot